Curso de Formação Profissional Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia

1. Periodicidade
Não regular - oferta em parceria institucional com EPSJV.

2. Objetivo Geral
Discutir as expressões de penosidades e (re)-existências no trabalho em saúde suscitadas pela pandemia, buscando refletir sobre as diferentes dimensões do trabalho e suas articulações na contemporaneidade.

3. Objetivos Específicos
Objetivo 1: Eixo 1- Sentidos e valores do trabalho
Discutir as condições de emergência e os efeitos dos discursos sobre o trabalho e os trabalhadores da saúde no contexto da pandemia de Covid-19, mobilizando a desconstrução dos processos de subjetivação e enquadramentos que limitam e constrangem outros possíveis modos de existência na vida e no trabalho no mundo pós-pandemia.
Objetivo 2: Eixo 2- Políticas de gestão do trabalho
Discutir as reconfigurações nas políticas de gestão do trabalho e seus efeitos sobre o trabalho e vida dos trabalhadores da saúde.
Objetivo 3: Eixo 3- Condições de trabalho
Identificar e discutir as condições de trabalho às quais estão expostos os trabalhadores da saúde no contexto da pandemia, reconhecendo as penosidades delas decorrentes.
Objetivo 4: Eixo 4 - Saberes e práticas do trabalhador
Identificar e discutir os saberes e práticas individuais e de equipe utilizados pelos trabalhadores atuantes na área da saúde para acionar dispositivos de resistência, adaptação e enfrentamento, no contexto de vida e trabalho, na pandemia.
Objetivo 5: Eixo 5 - Experiências e Trajetórias do trabalhador
Refletir sobre a importância da experiência e da memória na construção da história e dos sentidos do trabalho, enfocando o protagonismo dos trabalhadores nesse processo.
Objetivo 6: Eixo 6 - Saúde do trabalhador
Discutir as relações entre trabalho, saúde e subjetividade e compreender a atividade em suas diferentes dimensões e renormatizações, partindo do conhecimento e experiência dos trabalhadores.
Objetivo 7: Eixo 7 - Cuidado de Si, do Outro e do Mundo
Promover conversas sobre saberes e usos de práticas de cuidado entre as trabalhadoras e os trabalhadores da saúde na pandemia.

4. Justificativa
Essa proposta de formação consta como um dos produtos do "Respiro - projeto de investigação e apoio aos trabalhadores de saúde na pandemia", aprovado no Edital Geração de Conhecimento COVID-19 do Programa INOVA Fiocruz.
O projeto teve início em setembro de 2020 e tem a previsão de encerramento em agosto de 2022.
Nossa intenção é realizar o curso no segundo semestre de 2021, considerando a sistematização construída ao longo do desenvolvimento do projeto, que também conta com disciplinas em programas de pós-graduação institucionais, além de grupos de estudos, oficinas, jornadas, lives e rodas de conversa no Teams, Zoom e na Plataforma digital do projeto.
O olhar sobre as repercussões da Covid-19 nos trabalhadores da Atenção Básica em Saúde (ABS) e da Assistência Hospitalar permite analisar as dimensões constitutivas do campo do trabalho em saúde, visto que, nesse momento, novas penosidades emergem como efeito de políticas de gestão e de organização do trabalho, incidindo sobre as condições de proteção à saúde e de segurança do trabalhador. Da mesma forma, proporciona a investigação dos saberes e das práticas ofertados e acionados, e dos dispositivos de apoio e estratégias de enfrentamento utilizadas pelos trabalhadores.
Com o mapeamento de documentos, artigos científicos, textos da mídia, denúncias, acompanhamento de perfis públicos nas redes sociais, interações em fóruns de discussão, rodas de conversa, entrevistas, o Projeto Respiro pretende trilhar caminhos de compreensão dos sentidos de vida e de trabalho, dos processos de sofrimento e (re)-existência dos trabalhadores de saúde em tempos de pandemia.
Assim, acreditamos que o Projeto tenha muito a contribuir com o processo formativo de trabalhadores da saúde e profissionais interessados em aprofundar o tema do trabalho em saúde na contemporaneidade, ao compartilhar e sistematizar um patrimônio da experiência coletiva do trabalho em saúde (saberes, práticas e estudos científicos) na pandemia e ao mesmo tempo ser um espaço de apoio e acolhimento a esses trabalhadores.

5. Concepção Pedagógica
Nossa proposta pedagógica foi construída a partir da metodologia adotada pelo Projeto Respiro, mas predominantemente pelo conjunto de experiência e prática dos docentes que compõem o projeto e principalmente daqueles que construíram o Curso Respiro. Desta forma, expressa o acúmulo da vivência docente de Cursos ministrados e ofertados pelas unidades da Fiocruz envolvidas no projeto. É um Curso Movimento com metodologia participativa desde sua origem e construção e busca o diálogo entre os saberes e práticas nas quais se apoia o trabalho coletivo do Projeto Respiro e as experiências e vivências dos alunos relativas aos contextos de saúde em que atuam.
Partiremos da experiência de vida e trabalho na pandemia para discutirmos as penosidades e (re)-existências do trabalhador da saúde. O Curso Respiro não pretende instrumentalizar as atividades técnicas e especializadas nos serviços de saúde, mas constituir-se em um espaço de diálogo e troca entre os trabalhadores, uma pausa consciente e acolhedora para reflexão e compartilhamento de conhecimento, sentimentos e vivências do mundo do trabalho em tempos de Covid 19. Ao tomar como base a ideia de apoio-investigação, fundamento de nosso Projeto, o Curso pretende ser uma forma de apoio aos trabalhadores das instituições de saúde ou a elas vinculados direta ou indiretamente, através da escuta, acolhida e troca de experiências sobre as penosidades e (re)-existências vivenciadas no processo da pandemia, uma perspectiva de apoio-formação.
Assim, situamos nossos assentamentos teórico-metodológicos na concepção da pedagogia decolonial (Mota Neto, 2018), onde Paulo Freire e Fals Borda são os percursores na América-Latina, através da educação popular. Onde os princípios da educação subversiva, da hipótese de contexto, da valorização da memória coletiva, da busca por outras formas e propostas de conhecimentos e seus compartilhamentos, estão presentes para a construção de nossa proposta de apoio-investigação.
Assim, compreendemos a educação como um processo capaz de estimular o trabalhador da saúde na busca e no desenvolvimento de reflexões sobre a sua prática, colaborando para a ampliação da autonomia em suas atividades profissionais.
Acreditamos que a construção compartilhada do conhecimento, através do relato de práticas, sentimentos e impressões do cotidiano em suas unidades de saúde no período da pandemia e/ou pós-pandemia COVID 19, possa contribuir para o desenvolvimento do trabalho individual e coletivo em saúde de forma a amenizar as penosidades e enfrentar os desafios cotidianos.
Trabalhar nessa perspectiva exige um currículo em que o processo de ensino proporcione ao estudante uma reflexão crítica sobre a sua prática profissional e sua implicação frente às transformações sofridas e exigidas pela atual realidade política, social, econômica e sanitária e as consequências de tais mudanças na sua vida e em seus processos de trabalho.
Desta forma, é necessário que o currículo estimule a compreensão profunda da vida humana e da ligação que existe entre os processos de educação e saúde, a política e o processo concreto e histórico do viver.
Sendo assim, o curso parte da centralidade da trabalhadora e do trabalhador da saúde como atores sociais ativos na produção de saberes e conhecimentos, ou seja, agentes que constroem significados para a realidade vivenciada nos serviços, definindo sentidos para cada contexto. Os desafios da atividade de trabalho são disparadores de novos conhecimentos e ressignificações pessoais e coletivas que conformam os ambientes e as relações de trabalho. Ao assumir o pensamento crítico como eixo fundante da Formação/Educação, o curso assume a importância do diálogo entre as vivências, as experiências e o conhecimento científico historicamente estruturado. Consideramos a intencionalidade do profissional de saúde/aprendiz na busca da compreensão e resolução de problemas cotidianos (relação interpessoal, social, técnico, político, gerencial, logístico, etc.) em suas unidades de saúde, acionando suas experiências e evidenciando a importância de compartilhar o conhecimento já acumulado pela prática e pela ciência. Espera-se que as experiências vivenciadas no curso propiciem condições de discussão e compreensão crítica da realidade dos serviços na pandemia e/ ou na pós-pandemia, fortalecendo as trabalhadoras e os trabalhadores da saúde como protagonistas e gestores dos seus processos de trabalho. Incentiva-se, assim, a transformação de ambientes penosos e o reconhecimento das limitações, capacidades, potencialidades e necessidades de resistência impressas no mundo do trabalho.

6. Sistema de Avaliação
O sistema de avaliação será processual e terá caráter formativo, buscando valorizar e incorporar as vivências pessoais e profissionais do aluno, seus conhecimentos prévios e sua história de vida, bem como a reflexão e a articulação das temáticas de cada Eixo com a prática no serviço.
A avaliação contemplará a participação nas discussões em grupo e nas exposições realizadas pelos docentes, nas atividades a serem desenvolvidas individual e coletivamente, bem como da apresentação do trabalho final. Este será construído e apresentado de forma coletiva pelos grupos no formato de Portfólio, Banner, Vídeo, Podcast, Cartilhas ou outro sugerido pelos alunos, contemplando a sistematização da experiência vivenciada ao longo do curso, através da prática em serviço e das leituras apresentadas pelos Eixos. Assim, ao final do Curso cada grupo apresentará sua contribuição para a construção do Memorial do Trabalho em Saúde na Pandemia como produto da turma no Curso Respiro.

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