Expressões do Racismo e Saúde (ENSP.03.882.1)

DETALHES

Disciplina de natureza Teórica de nível Doutorado, com carga horária de 90 horas e 3 créditos.

Número de vagas:
50
Período:
01/09/2023 a 08/12/2023
Pré-requisitos:
Sem pré-requisito.
Área(s) de Concentração:
Políticas, Planejamento, Gestão e Cuidado em Saúde

HORÁRIO

Dia Início Fim
Sexta-feira 9h 13h

PROFESSORES

Nome
Marly Marques da Cruz
Paulo Roberto de Abreu Bruno
Roberta Gondim de Oliveira

EMENTA

A disciplina tem por objetivo discutir o racismo como estrutura e como sistema de poder, histórica e institucionalmente conformador de uma dada ordem social de base colonial, que estabelece hierarquias raciais nas diversificadas esferas da vida em comum. Discute-se o racismo como um potente marcador social das desigualdades em saúde, produtor de dinâmicas sociais racializadas, que se expressam em diversas dimensões,- material e subjetiva, repercutindo nos processos de determinação social da saúde. Intenciona-se compreender, problematizar e debater estratégias de enfrentamento dos processos pelos quais o racismo se conforma, se reproduz e se expressa na sociedade e nas instituições brasileiras, sustentado por narrativas de dominação. Questiona-se o mito da democracia racial no Brasil, entre outras noções do pensamento social hegemônico, enquanto narrativas que ocultam suas próprias tramas e que repercutem negativamente nas condições de vida e de saúde da população negra e indígena. Propõe-se trazer elementos da diáspora negra, silenciados, apagados e expropriados pela violência (neo)colonial, que dizem respeito não apenas à produção de conhecimentos, mas, fundamentalmente, àquilo que nos constitui enquanto sociedade e ?nação?, em diálogo com a cosmogonia africana numa perspectiva histórica e epistemológica. Nessa perspectiva, o objetivo geral desta disciplina é produzir reflexões sobre ser negro/a na sociedade brasileira capitalista, marcada pela colonialidade, pelo racismo e suas expressões presentes especialmente no campo da saúde.



Categoria: Eletiva.

Informação sobre as aulas: Serão 14 encontros em formato presencial, EXCEPCIONALMENTE com estratégias remotas (síncronas e/ou assíncronas).

Pré-requisito: Não há.

Vagas: 50 vagas.

Candidatos externos: Serão aceitos Alunos dos Programas de Strictu Sensu da ENSP, Alunos de outros Programas de Strictu Sensu da FIOCRUZ, Alunos de outros Programas de Strictu Sensu, Alunos de cursos de Latu Sensu, Graduados .

A disciplina ofertará vagas para o Programa de Mestrado Profissional em Saúde da População Negra e Indígena - Centro de Ciências da Saúde/UFRB.

A disciplina ofertará 04 vagas para Estágio em Docência e não há pré-requisito. Docentes colaboradoras: Profa. Dra. Diana Anunciação Santos e Profa. Dra. Rosa Cândida Cordeiro.

BIBLIOGRAFIA

Bibliografia ALMEIDA, S. L. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018. AZEVEDO, C. M. M. de. Onda negra, medo branco: O negro no imaginário das elites - Século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.BARBOSA, P. A violência contra a população de negros/as pobres no Brasil e algumas reflexões sobre o problema. Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais, n. 19, 2015.

BORDE, E. M. S. Notas para uma reinterpretação crítica dos processos de determinação social das iniquidades étnico-raciais em saúde. 2014. BALLESTRIN, L. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, [S. l.], n. 11, p. 89?117, 2013.

BATISTA, L. E. et al. Indicadores de monitoramento e avaliação da implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 29, n. 3, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-12902020190151.

BERNARDINO-COSTA, J.; GROSFOGUEL, R. Decolonialidade e perspectiva negra. Sociedade e Estado, Brasília, DF, v. 31, n. 1, p. 15-24, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100002.

BORRET RH, Silva MF, Jatobá LR, Vieira RC, Oliveira DOPS. ?A sua consulta tem cor?? - Incorporando o debate racial na Medicina de Família e Comunidade - um relato de experiência. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2020;15(42):2255. https://doi.org/10.5712/rbmfc15(42)2255.

BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Racismo é apontado como uma das causas da mortalidade materna entre mulheres negras. Brasília, 2015b. Disponível em < http://www.seppir.gov.br/central-de-conteudos/noticias/junho/racismo-e-apontado-como-uma-das-causas-da-mortalidade-materna-entre-mulheres-negras> Acesso em 17 jan. de 2018.

BRASIL. Política Nacional de Saúde integral da População Negra - PNSIPN - Uma política do SUS. Brasília, DF, 2013. Disponível em: Acesso em 04 jan. de 2018.

CARNEIRO, A. S. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005. Tese (Doutorado em Educação) ? Pós-Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

COSTA, D. B.; AZEVEDO, U. C. Das senzalas às favelas: por onde vive a população negra brasileira. Socializando, p. 145-154, jul., 2016.

COLLINS, P. H. Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Tradução de Jamille Pinheiro Dias. 1ª edição. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.

CRENSHAW, K. W. A interseccionalidade na discriminação de raça e gênero. In: AÇÃO EDUCATIVA, Cruzamento: raça e gênero. Brasília: Unifem, 2004. Disponível em: http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/09/Kimberle-Crenshaw.pdf Acesso em 04 jul. de 2017.

CUNHA, E. M. G. P. Recorte étnico-racial: Caminhos trilhados e novos desafios. In: BATISTA, L. E. et al. Saúde da População Negra. Brasília: ABPN, 2012.

DAVIS, A. Mulheres, Raça e Classe. Tradução de Heci Regina Candiani. ? 1 ed. ? São Paulo: Boitempo, 2016.

DUARTE, Constância Lima; NUNES, Isabella Rosado (org.). Escrevivência: a escrita de nós. Reflexões sobre a obra de Conceição Evaristo. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, p. 26-46, 2020b.

FANON, Frantz. (2008). Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA.

FANON, Frantz. (2010) [1961]. Os condenados da terra. Juiz de Fora. UFJF.

FOUCAULT, M. (2010) [1999] Em defesa da Sociedade. Curso no College de France 1975-1976. 2ª Edição. São Paulo: Martins Fontes.

GARCIA, A. S. Desigualdades raciais e segregação urbana em antigas capitais: Salvador, Cidade d? Oxum e Rio de Janeiro, Cidade de Ogum. 2006. 403 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa de Pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

GONCALVES, Leandro Augusto Pires; OLIVEIRA, Roberta Gondim de; GADELHA, Ana Giselle dos Santos and MEDEIROS, Thamires Monteiro de. Saúde coletiva, colonialidade e subalternidades - uma (não) agenda?. Saúde debate [online]. 2019, vol.43, n.spe8 [cited 2020-08-17], pp.160-174. Available from: . Epub Aug 07, 2020. ISSN 2358-2898.

https://doi.org/10.1590/0103-11042019s812.

GONZALEZ, Lélia. "A categoria político-cultural de amefricanidade". Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 92/93, p. 69-82, jan./jun. 1988.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984.

GONZALEZ, L. "Por um feminismo afrolatinoamericano". 1988. In: Caderno de Formação Política do Círculo Palmarino, n. 1, Batalha de Ideias, Brasil, 2011.

Disponívelem:https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/271077/mod_resource/content/1/Por%20um%20feminismo%20Afro-latino-americano.pdf Acesso em 05 jul. de 2017.

GONZALEZ, L. A questão Negra no Brasil (1980). In: NASCIMENTO, T. G. Primavera para as rosas negras: Lélia Gonzalez em primeira pessoa. São Paulo: Diáspora Africana, 2018.

GROSFOGUEL, R. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. In: SANTOS, B. S.; MENEZES, M. P. (Orgs.) Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina, 2009.

GUSMÃO, H. Mapa Racial de Pontos: Cidade do Rio de Janeiro. Brasil. Desigualdades Espaciais. 2015. Disponível em < https://desigualdadesespaciais.wordpress.com/2015/11/04/mapa-racial-da-cidade-do-rio-de-janeiro/> Acesso em 14 jan. de 2018.

HOOKS, B. Ensinando a Transgredir: a educação como prática de liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2013.

KILOMBA, G. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Cobogó. Rio de Janeiro. 2019.

LEAL, M.C. et al. A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil. Cad. Saúde Pública [online], vol.33, suppl.1, jul., 2017.

LUGONES, M. Colonialidade e gênero. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. Disponível em https://bazardotempo.com.br/colonialidade-e-genero-por-maria-lugones-2/.

MATOS, D. D. Racismo científico: O legado das teorias bioantropológicas na estigmatização do negro como delinqüente. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 74, mar 2010. Disponível em: < http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7448 >.

MBEMBE, A. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Antígona, 2014. MBEMBE, Achille. (2012) Necropolítica. N.1 1ª edição. 2018 MIGNOLO, W. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de ciências sociais, São Paulo, v. 32, n. 94, p. 1-18, 2017. MOURA, C. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Editora Ática, 1988. MUNANGA, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia. IN: BRANDÃO, A. A. P (Org.) Programa de Educação Sobre o Negro na Sociedade Brasileira. - Niterói: EdUFF, 2000. p. 15-34.

NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. NASCIMENTO, N. Campanha de combate ao racismo no SUS é esquecida pelo Ministério da Saúde. Brasil de Fato.

OLIVEIRA, Roberta Gondim; CUNHA, Ana Paula; GADELHA, Ana Giselle S.; CARPIO, Christiane G.; OLIVEIRA, Rachel B. CORRÊA, Roseane M. Desigualdades raciais e a morte como horizonte: considerações sobre a COVID-19 e o racismo estrutural. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro.36(9):e00150120. 2020.

PAIXÃO, M. et al. Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil; 2009-2010 Disponível em: http://www.palmares.gov.br/file/2011/09/desigualdades_raciais_2009-2010.pdf. Acessado em 04 de janeiro de 2018. QUIJANO, A. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005.

QUIJANO, A.l. Colonialidade do poder e classificação social. In: Santos, B.S; Meneses, M.P. (Orgs.) Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez Editora. p. 84-130. 2010. SACRAMENTO, A. N. do; NASCIMENTO, E. R. do. Racismo e saúde: representações sociais de mulheres e profissionais sobre o quesito cor/raça. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 45, n. 5, p. 1142-1149, Out. 2011. SEYFERTH, G. Estratégia de branqueamento, Ciência Hoje, v. 5, n. 25. 1986. SILVA, J. Mulher negra tem história: os processos organizativos das feministas afro-brasileiras nos anos setenta e oitenta. In: BARRETO, M. A. S. C. et al. (Org). Africanidade(s) e afrodescendência(s): perspectivas para a formação de professores. Vitória, ES: EDUFES, 2013. SILVA, M. A. B. Racismo institucional: pontos para reflexão. Laplage em Revista, v. 3, n. 1, p. 127-136, 2017. Disponível em: < https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6193624>. SILVA, M. A. Trajetória de mulheres negras ativistas. - Curitiba: Appris, 2017.

SILVERIO, V. R. Ação afirmativa e o combate ao racismo institucional no Brasil. Cadernos de pesquisa, v. 117, n. 2, p. 219-246, 2002. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cp/n117/15560>. Acesso em 13 jan. de 2018.

SOUZA, N. S. Tornar-se Negro. Rio de Janeiro: Graal, 1983. SOUZA, A. S de. Racismo Institucional: para compreender o conceito. Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), v. 1, n. 3, p. 77-88, 2011.

TAVARES, N. O.; OLIVEIRA, L. V.; LAGES, S. R. C. A percepção dos psicólogos sobre o racismo institucional na saúde pública. Saúde debate, Rio de Janeiro, v. 37, n. 99, p. 580-587, Dez. 2013.

WERNECK, J. et al. Racismo Institucional: uma abordagem conceitual. Texto produzido para o Projeto Mais Direitos e Mais Poder para as Mulheres Brasileiras (Mimeo), 2013a.

WERNERCK, J. Nossos passos vêm de longe! Movimento de Mulheres Negras e Estratégias Políticas contra o Sexismo e o Racismo. In: Werneck, J. (Org.). Mulheres Negras: um olhar sobre as lutas sociais e as políticas públicas. Rio de Janeiro: Criola, 2008. p. 76-84.

WERNECK, Jurema. Racismo institucional e saúde da população negra. Saúde Soc., São Paulo, v. 25, n. 3, p. 535-549, Sept. 2016.