Áreas ocupadas sofrem com contaminação em Roraima
Atualizado em 17/04/2014
"Os aspectos ambientais do entorno do bairro São Bento, em Boa Vista (RR), são preocupantes. A poluição produzida pela usina de asfalto, por meio da emissão de gases provenientes da queima de combustíveis fósseis e material particulado, vem provocando problemas respiratórios na população circunvizinha". A constatação é do aluno de mestrado em Saúde Pública, Luiz Carlos Nistal, cujo estudo averiguou a efetividade das intervenções estatais, quanto à habitabilidade, nessa área potencialmente contaminada. De acordo com ele, apesar das injeções de recursos públicos em infraestrutura e habitação popular, a concretização das ações relativas às políticas públicas, principalmente no que se refere às ocupações em áreas de potencial exposição a agentes químicos, físicos e biológicos nocivos à saúde humana, não atendem às necessidades e demandas da população em relação à saúde e habitação.
Luiz Carlos Nistal se propôs a estudar todas as dimensões da habitabilidade do bairro São Bento em decorrência da vulnerabilidade ambiental a que está exposta sua população. De acordo com ele, os padrões do entorno - de potencial exposição a agentes nocivos à saúde humana - e do conceito habitacional e de execução insustentáveis reforçam desigualdades sociais, ambientais e de saúde.
Segundo o autor do estudo, os gases produzidos pelo antigo lixão mantêm os moradores próximos em alerta contra possíveis incêndios. Os gases, que eram produzidos pela estação de tratamento de esgoto por deficiência operacional, atualmente foram minimizados após a reforma da mesma, apesar dos transtornos causados durante anos. Já os gases produzidos pelo Curtume, no Distrito Industrial, estão relacionados às dores de cabeça, coceiras e problemas respiratórios. “Fala-se de possíveis contaminações da água dos mananciais e do solo. Estes fatores seriam suficientes para que houvesse o monitoramento da área e da população adjacente, o que não acontece. Outros agravantes podem estar agindo silenciosamente e se manifestarem no futuro”, admitiu.
Luiz qualificou as soluções urbanísticas no local como convencionais. De acordo com ele, o ponto positivo foi a construção das novas casas, que respeitaram as moradias já existentes, e adaptaram-se a cada situação, sem seguir um padrão uniforme, e dando um aspecto mais orgânico. A valorização da circulação para veículos automotores é evidente, apesar da maioria da população se deslocar a pé ou de bicicleta. A ausência de áreas arborizadas e de calçadas dificulta a circulação de pedestres, principalmente em horários de incidência de sol intenso. “Não há locais para atividades comunitárias, nem de cultura, como também estabelecimentos de assistência básica de saúde”, observou.

Para o aluno, o monitoramento ambiental da área seria fundamental, principalmente em relação ao antigo lixão, que deveria estar cercado e contar com poços de visita e canais de coleta de chorume. "As águas dos igarapés também deveriam ser monitoradas sistematicamente, assim como a qualidade do ar. Se a usina de asfalto não puder ser removida, deveria ser reformada com instalação de filtros em todas as etapas da produção que gerassem resíduos. As lagoas de estabilização da estação de tratamento de esgoto, recentemente reformadas, teriam sua manutenção e monitoramento garantidos e o estudo de contaminação do ar, do solo e da água poderiam ser monitorados pelos programas da Vigilância Ambiental" alertou.
Quanto ao urbanismo do bairro, Luiz afirma que deveriam ter sido adotadas soluções mais sustentáveis. Segundo ele, um largo cinturão verde, denso, com vegetação de vários portes, funcionaria como barreira às fontes potenciais de contaminação.
Em relação à saúde, o aluno sugere o acompanhamento da população por uma equipe multidisciplinar. “Equipes de saúde da família e de agentes comunitários de saúde, devidamente familiarizados com os princípios da habitação saudável, fariam esse monitoramento. Para tanto, a construção de espaços de saúde é indispensável. Reforçaria a divulgação de informações sobre saúde sexual, visto que o quadro de doenças indica um amplo espectro das transmissíveis sexualmente”, concluiu.
Luiz Carlos Nistal, graduado em arquitetura e urbanismo pela USP, possui especialização em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (ENSP/Fiocruz) . Sua dissertação de Mestrado em Saúde Pública A dinâmica das ocupações de áreas potencialmente contaminadas. Estudo de caso: Bairro São Bento, Boa Vista, Roraima, foi apresentada no dia 17 de março, sob orientação da Prof.ª Simone Cynamon Cohen.
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