Pesquisa analisa assistência farmacêutica na AB e Programa Farmácia Popular
Atualizado em 19/05/2015

De acordo com a pesquisa, a Afab é bem mais eficiente na utilização do dinheiro público - os estudos disponíveis estimam que o setor público gasta de 150% a 250% por medicamento subsidiado no ATFP. No entanto, a Afab enfrenta enormes problemas estruturais, de gestão e no cuidado: faltam profissionais (tanto para gestão, quanto para dispensação e cuidado relacionado ao medicamento), estrutura física (armazenamento, local de dispensação precário, falta de refrigeração, internet, sistema de informação, etc.), recursos financeiros, existem graves problemas na programação de compras e aquisição de medicamentos. “São parcos os recursos e a prioridade política dada à qualificação dos serviços farmacêuticos na AB”, disse Mattos.
No ATFP, todos estes problemas são "terceirizados", explicou o aluno, uma vez que se contrata as farmácias comerciais para isso. Entretanto, continuou ele, além do alto custo, estas também não possuem profissionais qualificados dispensando medicamentos, são estabelecimentos desintegrados do SUS e possuem uma lógica de funcionamento mercantil.
Conforme relata a pesquisa, o financiamento federal do Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB) tem crescido de maneira exponencial - passou de R$247 milhões em 2010 para R$2,4 bilhões em 2014. Enquanto isso, a Afab permanece sem reajuste do repasse federal, que há cinco anos fica por volta de R$1 bilhão anuais para compras de medicamentos do componente básico da assistência farmacêutica. Somando-se este valor ao que estados e municípios devem investir por lei, o PFPB já supera o gasto global com a Afab.

Para ele, a priorização do ATFP tem impactos assistenciais: amplia a segmentação do acesso a medicamentos, criando uma terceira forma de acesso; amplia a mercantilização e privatização dos serviços de saúde. Por fim, Mattos disse que tanto o ATFP quanto a Afab, em suas condições atuais, reforçam a noção de atenção básica seletiva.
A implementação do Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB), em 2004, introduziu no país uma terceira fonte de provisão de medicamentos, sendo as outras duas a Assistência Farmacêutica a Atenção Básica (Afab) e as farmácias comerciais. O PFPB trouxe inovações nas políticas públicas para o setor, como a introdução do copagamento e as parcerias com o varejo farmacêutico na modalidade ATFP. Durante a acelerada evolução do programa, esta modalidade passou rapidamente a ser a mais importante quando comparada com a Farmácia Popular Rede Própria (FPRP) tanto em termos de recursos financeiros destinados quanto em quantidade de pontos de dispensação.
A Afab e o PFPB contam com número bem próximos de estabelecimentos (unidades de saúde no primeiro caso, farmácias conveniadas no segundo), porém a Afab é utilizada por uma população cerca de 3 vezes maior de hipertensos e diabéticos.
Leonardo Vidal Mattos é farmacêutico graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2011), e atua na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua dissertação, intitulada Assistência Farmacêutica na Atenção Básica e Programa Farmácia Popular do Brasil: uma análise crítica das políticas públicas de provisão de medicamentos no Brasil, foi defendida no dia 7/4, na ENSP.
(Foto: Arquivo pessoal)
(Foto: Arquivo pessoal)