Estudo da ENSP aborda relações trabalho-saúde
Atualizado em 01/08/2016

Sob orientação dos pesquisadores Maria Helena Barros de Oliveira e Renato José Bonfatti, os objetivos da pesquisa foram resgatar o processo histórico de institucionalização das práticas de saúde em uma unidade de produção da Fiocruz em seus aspectos organizacionais e operacionais, buscando a compreensão das influências das distintas abordagens das relações trabalho-saúde; contextualizar o processo de implementação do serviço de saúde do trabalhador da unidade em estudo; descrever as práticas de saúde à luz das diferenças conceituais entre Saúde Ocupacional, Saúde do Trabalhador e Qualidade de Vida no Trabalho; analisar os avanços e desafios das práticas; propor ações sob a perspectiva do campo da ST; além de contribuir para as reflexões da Saúde do Trabalhador no âmbito organizacional.
Na opinião de Maria Cristina, a pesquisa se justifica pela importância da compreensão do distanciamento entre as práticas implementadas e o que é preconizado pelos conceitos do campo. “Diante da complexidade dos diversos elementos apresentados, pode-se considerar que as práticas de saúde na unidade são fortemente influenciadas pelo paradigma da Saúde Ocupacional (SO) e da vertente geracional da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT).”
O estudo questiona como ocorreu o processo de implementação e implantação do serviço de saúde do trabalhador na unidade de produção da Fiocruz escolhida para o estudo e quais os avanços e desafios. ”A hipótese apresentada é que, no processo de institucionalização do serviço, assimilaram-se distintas concepções das relações trabalho-saúde, podendo ter gerado contradições que dificultam uma atuação na perspectiva ideológica da Saúde do Trabalhador. Constata-se que, ao assimilar essas diferentes expressões, surgiram dificuldades na integração de ações e diálogos devido à carência de uniformização técnica e troca de saberes”, explicou a aluna.

A aluna explica que a proposta da ST, como uma diretriz conceitual e ideológica inspirada nos princípios do Modelo Operário Italiano (MOI), em que, metodologicamente, utiliza-se de uma abordagem participativa nas questões das relações trabalho e saúde, sofre resistências para sua consolidação, pois amplia o protagonismo da classe trabalhadora no Sistema Capitalista. Essa questão se evidencia, exemplifica Maria Cristina, pela atual conjuntura desfavorável de retrocessos de direitos e a adoção de práticas organizacionais que podem dificultar uma postura mais crítica e política dos trabalhadores, internalizando certa ilusão de participação que acaba mantendo o status quo, podendo intensificar os agravos à saúde de quem trabalha. “Apesar de tal conjuntura, não podemos, no cotidiano de nossas práticas profissionais, deixar de nos inspirar nos princípios e lutar por melhorias das condições de trabalho.” concluiu.
Sobre a autora
Maria Cristina Jorge de Carvalho é graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2011), com especialização em Direito e Saúde pela ENSP/Fiocruz. Ela atua como assistente social, com ênfase em Saúde do Trabalhador, no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), unidade da Fiocruz, responsável pelo desenvolvimento tecnológico e pela produção de vacinas, reativos e biofármacos voltados para atender, prioritariamente, às demandas da saúde pública nacional.
* imagem de capa: Atlas Medicina
*foto de Maria Crsitina: arquivo pessoal