Pesquisadora recebe prêmio do MS por trabalho sobre esquizofrenia e utilização de redes de apoio na internet
Atualizado em 15/02/2017

"Nestes espaços de interação, o conhecimento adquirido pela experiência com a doença é valorizado entre os pares, pois leva em conta vários aspectos da vida com esta condição, sem excluir impactos emocionais, muitas vezes ausentes dos consultórios”, explicou Vera, dizendo ainda que a internet facilitou o acesso à informação biomédica. "Estes dois saberes associados, conhecimento da experiência e credenciado, caracterizam os grupos virtuais como potentes espaços de apoio e oferecimento de informação com impactos no autocuidado e empoderamento da pessoa”.
O prêmio é uma iniciativa do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (Decit/SCTIE/MS) e visa incentivar a produção de trabalhos técnico científicos na área de ciência e tecnologia de interesse do SUS. A premiação aconteceu em 13 de dezembro de 2016, em Brasília, no âmbito do I Encontro Nacional da Rede para Políticas Informadas por Evidências (EvipNet Brasil.
O trabalho apresentou uma abordagem sobre moral voltada à realização dos funcionamentos básicos para o respeito e florescimento das diversas formas de vida. Segundo Vera, funcionamentos básicos, nesta abordagem, são estados e ações que conformam a identidade de cada ser, analisados a partir de investigações empíricas para cada caso concreto, como a realizada na tese. A teoria utilizada foi desenvolvida pela orientadora da tese, Maria Clara Marques Dias, que é docente do PPGBIOS.
Para Vera, o principal funcionamento realizado pelo grupo virtual para quem tem sofrimento psíquico “é o reconhecimento de si no outro. O que produz alivio, pois as pessoas percebem que não são as únicas em relação à experiência do sofrimento psíquico, o qual deixa de ser estranho e ameaçador. Assim, detalhou Vera, “delineia-se uma nova identidade forjada a partir da condição crônica: uma bioidentidade. O anonimato é confortável para as narrativas da vida com esta condição. O ‘estranho íntimo’ - vínculo possível de ser estabelecido na internet - é a base da intimidade entre os membros do grupo”, explicou.
A pesquisadora, que é psicóloga e atua no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da ENSP, apontou que o grupo virtual indica “ser uma alternativa de socialização para alguns membros que sentem desconforto em frequentar o espaço público, identificada como retraimento positivo (positive whitdraw)”. E argumentou que “a comunidade virtual auxilia na redução do sentimento de solidão e, aliado ao compartilhamento de experiências, promove maior controle e domínio sobre a vida de quem convive com a esquizofrenia”.
A pesquisadora defendeu ainda que grupos de apoio devem ser analisados para seu aproveitamento pelo SUS, pois em algumas situações e formatos a comunicação digital pode resultar em promoção à saúde e cuidado integral. “Os participantes de grupos virtuais têm grande demanda por informação sobre direitos, serviços, medicação e novos tratamentos. Portanto, Vera aponta que profissionais de saúde têm relevante papel a desempenhar na orientação de tais solicitações. Ela finalizou analisando que as perspectivas futuras de evolução deste trabalho indicam a capacitação de profissionais do SUS para facilitação das conversações dialógicas de modo a garantir o acolhimento a todos bem como a ideia de expansão dos grupos de ajuda mútua para compor ampla rede integrada de apoio, a exemplo de iniciativas internacionais.