
O painel
Desafios do Ensino Remoto na Pós-Graduação, apresentado durante o Seminário de Ensino da ENSP, em 20 de abril, contou com a exposição dos coordenadores dos programas de pós da Escola, e de Edméa Oliveira dos Santos, pesquisadora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Para ela, "não podemos formar pesquisadores em massa, precisamos de mais do que conteúdo sistematizado, e sim encontro, partilha, cocriação, e isso só se faz em comunidade.” Então, “quanto mais aprendemos com o digital, mais podemos quebrar paradigmas, termos criatividade e fazer diferente", completou. Ela acredita que educação on-line não é evolução da Educação a Distância, e sim uma convergência bem trabalhada entre possibilidades pedagógicas síncronas com potencialidades pedagógicas assíncronas. “Precisa-se escrever artigo juntos, pensar projetos juntos.” Maurício de Seta, coordenador de Desenvolvimento Educacional e EAD/ENSP, mediou o evento.
Edméa chama atenção que “dependendo de como acionamos a tecnologia podemos perder o foco de formar o pesquisador porque não podemos transformar a pós-graduação num grande ‘escolão’ e trazer prejuízos para sua formação.”
Ela explicou que ensino remoto é a transposição da matriz curricular presencial no mesmo tempo para o on-line síncrono, ou webconferência. “Quando a gente se encontra em tempo real levando a agenda que tínhamos para a web conferência. Ele lança mão de situações assíncronas, mas não são interativas, sem espaço de conversa, mas sim como repositórios ou de auto estudo.”
Já a EAD clássica, disse ela, é focada no auto estudo e na personalização, podendo desenhar currículos, mas totalmente a distância perde no conceito comunidades de aprendizagem, insuficiente na formação do pesquisador, quando não se tem grupos de pesquisa. Segundo ela, o que hoje começa a aparecer como ensino híbrido é a educação on-line, porque é o que se faz no presencial com mediação de tecnologia digital em rede no mix presencial a distância, mas também aquilo que podemos fazer a distância quando estamos geograficamente dispersos.
A editora-chefe da revista Docência e cibercultura acredita que as metodologias precisam ser sempre interativas, e não colocar o aluno no centro, porque o centro é a relação professor-aluno, conhecimento-objetos técnicos. “Se é para ter centro, na cibercultura, o centro é a rede e não um personagem ou outro.

Edméa demonstrou preocupação com a fala de alguns colegas sobre o sentido dado à formação como treinamento, que é aprender a fazer algo específico, sem necessariamente compreender o processo, “vem de um paradigma fordista, de um modo muito criticado pelo educador Paulo Freire”. Ela disse: “Prefiro falar no processo de formação em comunhão com os objetos técnicos. Quanto se trata de formação de professores deve-se evitar falar em treinar e capacitar. Então, mais do que ensinar a ferramenta
Moodle, é preciso envolver os professores em didática e docência on-line.”
De acordo com a pesquisadora, a educação como prática de liberdade não acontece apenas disponibilizando conteúdos de qualidade, pois só acontece dialogando, ouvindo as diferenças, então ela disse que adorou ouvir os coordenadores falando “o que seria de nós sem as secretarias, alunos e professores engajados e o apoio do centro de Educação a Distância nesse momento?” “Fiquei muito emocionada em saber que a ENSP conseguiu abrir o processo seletivo em 2020 e fazer mais mestres e doutores acessar a pós-graduação pública, porque eu acompanhei programas de outras instituições públicas se recusando a trabalhar nos quatro primeiros meses da pandemia, se recusando à experiência mediada pela tecnologia”, concluiu.
Coordenadores dos programas de pós-graduação da ENSP relatam experiências
O Seminário de Ensino foi a oportunidade para os coordenadores dos seis programas de pós-graduação da ENSP relatarem suas experiências nesse período de pandemia.

Marly Marques da Cruz, coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Saúde Pública da ENSP, começou fazendo um panorama da conjuntura política da pós-graduação brasileira, marcada pela interferência do governo atual em todas as instâncias de ciência e tecnologia. Ela criticou as quatro mudanças na presidência da Capes, de 2018 a 2021, sendo as decisões da coordenação com pouco diálogo com a comunidade científica ou coordenadores de área e todas as modificações realizadas voltadas para o enfraquecimento do Sistema Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa.
Além disso, “não se tem analisado de forma responsável as implicações da pandemia para os programas”, apesar das iniciativas da Capes que implementou a concessão de prorrogação de bolsas, abriu chamada extraordinária para mestrado e doutorado, auxiliou estudantes no Brasil e no exterior”.
Ela destacou no âmbito do fórum dos coordenadores da área de saúde coletiva estratégias de preservação da área e movimento de resistência. Então, em 2020 foi definido ano sabático, e a entrega do relatório de fechamento do quadriênio adiada para 31/05/2021.
As orientações para retomada das atividades de ensino no âmbito do PPGSP, em virtude da pandemia de forma remota, ficaram assim definidas:
No 1° semestre 2020 (agosto a novembro): 29 disciplinas, sendo 16 obrigatórias e 17 eletivas, mas 4 foram canceladas, então no total 13 eletivas. No 2° semestre (dezembro 2020 a março 2021): 24 disciplinas, sendo 4 obrigatórias, e 20 eletivas. Não houve oferta de disciplinas de verão e inverno.
Quanto aos desafios atuais, Marly enumerou o acompanhamento de diferentes processos de forma remota; continuidade presencial de alunos que ingressaram nas chamadas extraordinárias e regular e são de outros municípios e estados; aumento de pedidos de prorrogação para conclusão de mestrado e doutorado; apoio a discentes e docentes; debate sobre questões de desigualdades e diversidade étnico-raciais e de gênero.

Já Enirtes Caetano Prates Melo, coordenadora de Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP, focou nos desafios da educação remota emergencial de disciplinas originalmente concebidas para o formato presencial e suas adaptações com a devida escolha da plataforma, acompanhamento de conteúdos, ajustes para garantir boa formação, fontes de estímulo.

Enrico Saggioro substituiu, no evento, Andrea Sobral de Almeida, coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP. que tem seis linhas de pesquisa, 12 projetos estruturantes. Para viabilização do ensino remoto emergencial, mapearam acesso e qualidade da internet, disponibilidade e qualidade equipamentos, ofereceram apoio psicológico e de saúde mental, treinamento nas plataformas utilizadas com envio de tutoriais, curso na MultiRio sobre vídeo-aulas. Para implementação das atividades, foi reorganizada a grade curricular das disciplinas, planejadas atividades referentes a disciplinas, webinários e rodas de conversa, mantidas as defesas por videoconferência, mas suspensas as atividades de pesquisa em laboratório.

O coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva da ENSP, Pablo Dias Fortes, considerou que “estamos imersos na experiência que é objeto dessa reflexão”. Diante desse desafio, ele considera que programa o sofrimento mental e psíquico se destacou. O segundo ponto que ele colocou foi o processo de desequilíbrio. “Os esquemas de ação não eram suficientes para lidar com a demanda que tínhamos à frente, e isso é fonte de muita angústia. Por parte dos alunos houve muita solidariedade. Por parte dos docentes, espaço e o tempo se desequilibraram, tiveram que reaprender.” Para ele, a palavra-chave foi conexão, construindo relações nesses tempos levando em conta as desigualdades que pesam sobre cada indivíduo.

“Estávamos num momento de integração, quando veio 2020 com muito sofrimento, mas também de superação, de resistência.” Foi o início da fala de Elyne Engstrom, coordenadora do Programa Mestrado Profissional em Saúde Pública da ENSP. Segundo ela, o Ensino e a Ciência são estruturantes e nesse momento de negação, o comprometimento com a justiça social fortalece a sociedade. Na Fiocruz, como ela explicou, as ações foram imediatas para se adaptar às necessidades dos alunos e professores. “Ao mesmo tempo nos afastamos, as tecnologias nos ajudaram, na medida em que a usamos na sua potencialidade.” Flexibilidade e diálogo foram fundamentais, enfim foi um ano de muito aprendizado entre os programas para conseguirmos fazer o que era possível, sem perder a ternura.” Formaram 900 alunos e contam com 100 docentes.

Cosme Marcelo Furtado Passos da Silva, coordenador do Programa Mestrado Profissional em Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP, que tem apenas 10 anos, explicou que quando começou a pandemia, estavam com uma turma acontecendo no Uruguai, predominantemente de médicos. “Ainda faltavam as qualificações que ocorreram de forma remota, antes da pandemia. Duas últimas defesas vão ocorrer em breve. O programa lançaria um edital no ano passado em parceria com a Fiocruz Piauí, mas com a pandemia, foi adiado para o 2° semestre de 2021.” Segundo ele, um dos pontos mais positivos foi a interação entre os seis programas da ENSP e com a Fiocruz como um todo, “apesar das lacunas, mas não por falta de esforço.”
Confira, abaixo, o vídeo do painel Desafios do Ensino Remoto na Pós-Graduação, no canal da ENSP no YouTube.