Prêmio Oswaldo Cruz concede menção honrosa a duas teses da ENSP
Atualizado em 21/09/2021
Ao todo, foram contemplados quatro ganhadores nas áreas de 'Ciências Biológicas Aplicadas e Biomedicina'; 'Ciências Humanas e Sociais'; 'Medicina'; e 'Saúde Coletiva’. Além das teses defendidas na ENSP/Fiocruz, outros três trabalhos também foram agraciados com menção honrosa.
Aleitamento materno na atenção neonatal e infantil
A tese “Aleitamento materno na atenção neonatal e infantil de alta complexidade: estudo de coorte”, defendida no PPGEPI/ENSP por Maíra Domingues Bernardes Silva, foi orientada pelos pesquisadores Enirtes Caetano Prates Melo, Raquel de Vasconcellos Carvalhaes de Oliveira e João Aprígio Guerra de Almeida. Realizado com bebês nascidos no IFF/Fiocruz ou transferidos até os sete dias de vida, a tese investigou os padrões e os determinantes da prática de aleitamento materno exclusivo (AME) nos primeiros seis meses de vida, de crianças nascidas em uma instituição de referência nacional para alto risco fetal, neonatal e infantil. A coleta de dados se deu em três momentos: após o nascimento, na primeira consulta após a alta hospitalar e entrevistas mensais até o sexto mês.
Dados obtidos mostraram que 93% das mães relataram desejo de amamentar e a prevalência geral de AME na alta hospitalar foi de 65,2% e, entre os prematuros, de 40%. A proporção e a duração do aleitamento materno exclusivo é menor em recém nascidos de risco.
Um dos fatores encontrados para esses resultados foi o tempo de internação hospitalar do recém-nascido, que se mostrou um determinante importante para o aleitamento materno exclusivo. Quanto mais tempo o bebê fica internado, menores as chances de um prolongamento do tempo de AME. Durante apresentação no II Seminário Novembro Roxo, Maíra, que é enfermeira pediátrica e coordenadora da Assistência em Aleitamento Materno do Banco de Leite Humano do IFF explicou que “o tempo mediano da internação hospitalar aumenta gradualmente do aleitamento materno exclusivo para a prática de não aleitamento materno. E isso se repete no terceiro e no sexto mês, mostrando o quanto o tempo de internação hospitalar é um determinante importante para esse desfecho”. (Leia a reportagem completa sobre o estudo aqui)
Sobre a premiação, Maíra agradeceu o reconhecimento do trabalho por intermédio do Prêmio Oswaldo Cruz de Teses e enalteceu o suporte recebido pelo IFF e ENSP. "As palavras não alcançam a imensa gratidão que sinto em meu coração. Assim, aproveito para expressar gratidão a esta instituição, especialmente ao IFF e ENSP - unidades as quais tenho o máximo respeito pelo que representam, e por me oferecerem condições e oportunidades para crescimento e desenvolvimento pessoal, intelectual e do meu trabalho na busca constante da excelência e qualidade; aos recém-nascidos de risco, crianças e mães, que me inspiram todos os dias e preenchem meu coração de amor (em especial aos participantes da pesquisa que concordaram em se submeter aos procedimentos do estudo por seis meses). Agradeço aos orientadores, que conduziram brilhantemente e com extrema generosidade esta Tese; à rede brasileira de Bancos de Leite Humano e equipe de Banco de Leite Humano do IFF e à minha família, que é a base de tudo. Foram quatro anos intensos de muito estudo, dedicação e compromisso com minha formação em epidemiologia e esta coorte que foi desenvolvida para conhecer a prática de aleitamento materno entre as crianças nascidas no IFF nos primeiros seis meses de vida".
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Alimentos ultraprocessados e o risco de doenças cardiovasculares
Já a tese Consumo de alimentos ultraprocessados e seus efeitos sobre os lipídios plasmáticos e a pressão arterial. Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), defendida no PPGEPI/ENSP por Patricia de Oliveira da Silva Scaranni, foi orientada pelas pesquisadoras Maria de Jesus Mendes da Fonseca e Letícia de Oliveira Cardoso. Inédita no Brasil e realizada com amostra de mais de 5 mil participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), a pesquisa mostra que o consumo de alimentos ultraprocessados está relacionado ao aumento do risco de hipertensão arterial (pressão alta) e de dislipidemias (alterações nas estruturas que carreiam colesterol através do sangue) em adultos. Os resultados apontam que o consumo de altas quantidades de produtos como nuggets, macarrão instantâneo, cereais matinais, barras de cereais e refrigerantes pode aumentar o risco de desenvolver hipertensão em 23%.
No que diz respeito às dislipidemias, cuja incidência é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de doenças cardiovasculares, o risco aumentado ocorre mesmo em quantidades moderadas de consumo de alimentos ultraprocessados. Quanto maior a ingestão, mais alto é o risco, que pode chegar a até 29% para hipercolesterolemia isolada, 30% para hipertrigliceridemia isolada, 41% para hiperlipidemia mista e 24% para baixo-HDL, exemplos de dislipidemias. (Leia a matéria completa sobre a tese).
Em relação à menção honrosa, Patrícia lembrou o desenvolvimento do trabalho durante a pandemia de Covid-19 e alertou para a importância do estudo para a saúde pública, no que diz respeito aos malefícios do consumo excessivo dos alimentos ultraprocessados na saúde
“Estou muito feliz por mais uma menção honrosa e desta vez com minha tese de doutorado. Sou muito grata a Deus, à minha família e às minhas orientadoras pelo apoio incondicional. Também sou grata aos participantes, alunas e à equipe do ELSA-Brasil, pois sem eles não seria possível. Essa premiação foi importante porque o tema desta tese tem um grande peso para a saúde pública, uma vez que é mais uma evidência dos malefícios do consumo excessivo dos alimentos ultraprocessados na saúde. Observamos aumento de incidência de hipertensão arterial e de dislipidemias, afecções responsáveis por doenças cardiovasculares que são a maior causa de mortes no Brasil e no mundo. Espero que todos que tenham acesso a essa tese compartilhem esse conhecimento que é de suma importância para a saúde pública”.
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