Módulo 3 – Territórios sustentáveis e saudáveis

Produção de conhecimentos coletivos e sistematização de experiências em agroecologia

Como discutimos na seção anterior, as experiências em agroecologia, o cuidado com o território e os saberes dos povos e comunidades tradicionais são processos coletivos. A construção do conhecimento também precisa ser. Nos valemos da ideia de ecologia de saberes, já mencionada em outras seções e módulos, mas que merece ser lembrada:

A ecologia de saberes é um conceito que visa promover o diálogo entre vários saberes que podem ser considerados úteis para o avanço das lutas sociais pelos que nelas intervêm. É uma proposta nova e, como tal, exige alguns cuidados. Como é nova, o caminho faz-se ao caminhar. Não há receitas de nenhuma espécie. Quais são os principais cuidados? Em primeiro lugar, a ecologia de saberes não se realiza nos gabinetes das universidades ou nos gabinetes dos líderes dos movimentos (...) Portanto, em primeiro lugar, a ecologia de saberes é um processo coletivo de produção de conhecimentos que visa reforçar as lutas pela emancipação social (SANTOS, 2014, p. 332).

A sistematização de experiências é uma metodologia que objetiva exatamente exercitar essa ideia de ecologia de saberes. Sabemos que, nos territórios, agricultores, povos e comunidades tradicionais têm desenvolvido diferentes práticas, estratégias e tecnologias sociais. Podemos destacar dois pontos bem importantes a partir disso:

  • a importância de refletir sobre a caminhada e o que foi desenvolvido, além dos próximos passos; e
  • a possibilidade de divulgar essas ações para que outras pessoas possam aprender e utilizar esses saberes em suas realidades.

Fonte: Agroecologia em Rede ([2022)].
Crédito: Arte de Beatriz Cancian.

A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) tem se dedicado a essa metodologia. O objetivo é conhecer as diversas experiências de agroecologia e ao mesmo tempo fortalecê-las por meio do processo coletivo de reflexão e ação.

Na sistematização das Redes de Agroecologia, conduzida entre 2017-2020 , a ANA buscou compreender como 28 redes, em todos os biomas brasileiros, incidem de forma positiva nos territórios, articulando recursos sociais e ecológicos, estabelecendo conexões, combinando políticas públicas e criando um ambiente de aprendizado e governança compartilhada (ARTICULAÇÃO NACIONAL DE AGROECOLOGIA, 2020b). Nesse processo foram construídas linhas do tempo de atuação das redes, identificando temas estratégicos de atuação, como mercados e acesso à terra e ao território, além de pontos fortes e frágeis.

Para saber mais

Como parte da sistematização das redes de agroecologia, a ANA produziu Boletins de Tecnologias Sociais em Agroecologia , que foram pensados e construídos como materiais para uso nos territórios. Agroecologia e saúde figuram nessa série, especialmente por intermédio da Casa da Medicina Tradicional Xakriabá , hoje reconhecida como parte do serviço público de saúde, integrando as terapias ali desenvolvidas, como a homeopatia, a fitoterapia com uso de plantas medicinais e a radiestesia, ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Agroecologia em rede: uma plataforma a serviço do movimento agroecológico

A importância das sistematizações para o fortalecimento da agroecologia foi ganhando, ao longo do tempo, cada vez mais força. A agroecologia se faz nos territórios: conhecer o território, quem ali vive e,
então, construir caminhos coletivos – isso é o que articula e anima o movimento agroecológico.

É desse embalo que nasce a plataforma virtual do Agroecologia em Rede (AeR) , já indicado para pesquisa algumas vezes aqui no material do curso. Seu primeiro desenvolvimento foi no começo dos anos 2000. A ideia era criar um banco de dados sobre plantas nativas da região Nordeste, facilitando a localização daquilo que estava sendo feito e o intercâmbio de informações entre agricultores.

Foto de homem em um terreno arenoso manipulando uma ferramenta para construção do TVAP.

Fonte: Agroecologia em Rede ([2022]).

Para saber mais

No vídeo Agroecologia em rede você pode descobrir um pouco mais sobre a plataforma, como é feita a gestão dos dados e informações, os princípios que orientam o trabalho e a importância de construí-lo usando tecnologias de software livre, o que garante, além de um desenvolvimento colaborativo, a soberania dos dados.

Hoje a plataforma reúne, em um mapa interativo, mais de três mil experiências sistematizadas em agroecologia no Brasil e na América Latina. São tecnologias sociais em agroecologia, políticas públicas municipais, estaduais e federais, redes de agroecologia, núcleos de agroecologia e experiências de abastecimento popular, de incidência política e de saúde.

Para saber mais

Sugerimos que você conheça algumas experiências em saúde e agroecologia. Na seção Tecendo Redes de Experiências em Saúde e Agroecologia , do site Agroecologia em Rede, você encontra um vídeo sobre essa iniciativa, bem como consegue acessar as 170 experiências cadastradas, dentre outros materiais.

Foto de homem em um terreno arenoso manipulando uma ferramenta para construção do TVAP.

Fonte: Agroecologia em Rede ([2022)].
Crédito: Arte de Patrícia Nardini.

Atividade 2

Ao longo desta seção discutimos uma série de experiências e tecnologias sociais em agroecologia e saúde. Agora, vamos trazer esse conhecimento para a nossa realidade local.

1. Navegue pelo site Agroecologia em Rede .

2. Utilizando os diferentes temas (agricultura urbana e periurbana; construção social de mercados; mulheres e feminismo; práticas de cuidado em saúde e medicina tradicional etc.), identifique duas experiências ou tecnologias sociais que poderiam contribuir com seu Pats.

3. Justifique sua escolha, explicitando como essas tecnologias/experiências poderiam contribuir na solução dos problemas/desafios locais enfrentados. Lembre-se de que as experiências não podem ser simplesmente replicadas, requerem adaptações em cada um dos contextos. Lembre-se também de trazer elementos também sobre este ponto.

Esta atividade irá subsidiar os itens 2 (seleção de uma tecnologia social), 3 (estratégia de implementação), 4 (viabilidade) e 5 (recursos necessários) do seu Pats.

Lembre-se de seguir as orientações para execução e envio das atividades apresentadas no início do curso.

Agora, acesse o AVA para enviar sua atividade.