A comida de verdade combina o trabalho das famílias agricultoras, realizado desde os diferentes territórios, com a promoção de alimentos saudáveis pela população. Mas essa comida não alimenta só o corpo, também nutre a cura. É o que nos explica a indígena Célia Xakriabá, do povo Xakriabá, do norte de Minas Gerais, cerrado brasileiro, em sua fala no vídeo de abertura do seminário Contribuições para o debate sobre abastecimento alimentar no Brasil . Destacamos o seguinte trecho, para reflexão:
A melhor alimentação, a que dá sustância para o corpo, é aquela em que o prato é diverso, que o prato é colorido. As pessoas também precisam pensar assim a terra, é urgente a humanidade retomar, não somente o afeto da produção e do preparar dos alimentos, mas, sobretudo, a aproximação da semente e da terra. Aquele que não consegue escutar o clamor da terra, o chamado da terra, e dos povos indígenas que estão sendo queimados, desmatados, envenenados, não consegue escutar o clamor de mais ninguém. A cura da humanidade está na capacidade de reativar este princípio de ser humano (XAKRIABÁ, 2020).
Sendo assim, só é possível cuidar do território pelo reconhecimento da sua diversidade social e ecológica, suas cores e formas, e, ao mesmo tempo, pela defesa contra as violências em curso, perpetradas por modelos hegemônicos de desenvolvimento. Diante das relações desiguais de poder, os povos e comunidades tradicionais e as famílias agricultoras têm construído práticas cotidianas de (re)existência.
A Fiocruz, aliada a uma rede parceiros, é responsável pela curadoria do Mapa de Conflitos de Injustiça Ambiental , que reúne informações sobre populações discriminadas e invisibilizadas pelas instituições e pela mídia, tornando públicas as injustiças e os crimes enfrentados nos diferentes territórios do Brasil.
As (re)existências reafirmam modos de vida, que são as formas como esses povos e comunidades tradicionais têm se apropriado do território e construído, por meio de seus saberes, uma paisagem na qual natureza e cultura são entes inseparáveis. As práticas tradicionais e os saberes vivos dos povos são importantes expressões de seus modos de vida. Veja a seguir a definição de cultura produzida pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) :
A cultura na agroecologia ou a agroecologia enquanto cultura se expressa nos saberes dos povos nos diferentes territórios, na estreita associação com seus modos de vida, as estratégias de convivência e relação com a natureza, suas crenças, cantos e moradas. A cultura alimenta o saber, anima a troca e interação entre diferentes saberes, mantém viva a relação dos sujeitos coletivos e seu entendimento enquanto povo. A cultura, entendida como matriz cultural, da semente à mesa, dos festejos de plantio, colheita e fé, expressões artísticas e manifestações populares – o que define a identidade de um povo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA [(2022)].
Depois de conhecer um pouco mais sobre saberes, cultura, modos de vida e expressões dos territórios, assista ao vídeo Preservar é resistir – em defesa dos territórios tradicionais, produzido no âmbito da campanha mobilizada pelo Fórum de Comunidades Tradicionais (FTC), e conheça, na voz e encantarias dos povos e comunidades do território da Bocaina, como os saberes tradicionais e a conservação da natureza só podem ser compreendidos juntos.
Em 2021, um relatório publicado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura , o qual avalia a situação das florestas no mundo, concluiu que as florestas verdadeiramente preservadas estão onde vivem também os povos e comunidades tradicionais.
Fonte: Amazônia Real (2018).
Foto: Bruno Kelly.
No Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo, no bioma da Mata Atlântica, vivem diversos povos indígenas, quilombolas, caiçaras e agricultores familiares. Ali, ao longo de mais de três séculos, o povo negro tem construído seu território, seja afugentando-se da escravidão, seja encontrando seu lugar no período pós-abolicionista.
A relação secular com a floresta foi o que permitiu o desenvolvimento de uma agricultura itinerante, também aprendida com os indígenas da região, as chamadas roças de coivaras, como pode ser visto no vídeo sobre o sistema agrícola quilombola.
Combinando o cuidado da floresta com práticas tradicionais, as famílias quilombolas produzem seus alimentos e comercializam o excedente em feiras, garantindo geração de renda e comida de verdade. Essa tecnologia secular, o Sistema Tradicional do Vale do Ribeira, foi identificada como um patrimônio cultural do Brasil, pelo Instituto de Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional (Iphan), estratégia que visa reconhecer e valorizar esses saberes.
Os processos de reconhecimento como os do Iphan são importantes ao reconhecerem, junto ao Estado, o quão fundamental é defender e apoiar os povos e comunidades tradicionais. No entanto, isso não é uma realidade generalizada. Ao contrário, o que se identifica no nosso país são processos de descaso, criminalização e preconceitos.
Fonte: Tribunal Permanente dos Povos em Defesa dos Territórios do Cerrado (2022).
Crédito: Estúdio Massa.
Redes da sociedade civil têm se formado para coletivamente denunciar crimes cometidos contra os povos e comunidades tradicionais e anunciar como suas práticas culturais e ancestrais são o principal caminho para a preservação da natureza e garantia da qualidade de vida para toda a população brasileira. É a isso que a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado tem se dedicado, especialmente com a organização do Tribunal Permanente dos Povos (TPP) .
Assista ao vídeo Nós fazemos justiça que brota da Terra!, produzido pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que apresenta o que é o tribunal e quais são seus sentidos na defesa dos povos e comunidades tradicionais e do Cerrado, uma das regiões de maior diversidade biológica do mundo.
Buscando propiciar um lugar de escuta dos representantes dos diversos povos e comunidades do Cerrado sobre sua leitura política a respeito de seus modos de vida, suas práticas de manejo e suas tradições socioculturais, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado organizou uma publicação que reúne uma coleção de artigos sobre os saberes populares e diversidade nos cerrados . Recomendamos a leitura!
Agora é hora de conectar os debates sobre territórios, saúde, agroecologia e comida de verdade com seu Pats.
1. Quais são as principais características da área do seu plano de ação? Considere, no seu levantamento de informações, por exemplo:
2. Há relação entre as ideias aqui apresentadas sobre território e o local para o qual você está estruturando seu plano de ação? Descreva as principais formas de cuidado com o território praticadas onde você desenvolverá seu Pats, incluindo alguns dos elementos culturais envolvidos. Lembre-se de que diferentes formas podem ser identificadas, como a produção de alimentos típicos, festas, práticas religiosas e tantas outras.
Esta atividade irá subsidiar os itens 1 e 2 do Pats, referentes ao diagnóstico da comunidade/território, e seleção de uma tecnologia social e como ela poderia solucionar problemas concretos nesse território.
Lembre-se de seguir as orientações para execução e envio das atividades apresentadas no início do curso.
Acesse o AVA para enviar sua atividade.