Vimos que as condições para a constituição de um território saudável e sustentável dependem das relações entre quem ali vive e ações de governança intersetorial e participativa. Do mesmo modo, as experiências de agroecologia só se realizam por meio dessas mesmas relações.
É no território, a partir da vida real das pessoas e das relações sociais e ecológicas tecidas, que a agroecologia ganha corpo, como nos lembra Sílvio Gomes de Almeida (2009) – agrônomo e atuante no movimento agroecológico desde suas primeiras sementes –, no capítulo que escreveu para o livro Agricultura familiar camponesa na construção do futuro .
Fonte: Cabral (2021).
Foto: Ludio Cabral.
Pensar em “experiências” é pensar nas muitas formas que a agroecologia pode assumir nos territórios, afastando-a de uma concepção normativa e tendo sua principal referência nos processos cotidianos dos agricultores e comunidades tradicionais, seja na cidade ou no campo.
Para conhecer um pouco mais sobre como a agroecologia é compreendida e vivenciada de distintas formas, adaptada às condições de cada território e associada a muitas lutas, como a defesa da reforma agrária e contra o racismo e o machismo, assista à série de vídeos O que é agroecologia para você? , produzida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).
As experiências de agroecologia valem-se, assim, da diversidade, mas ao mesmo tempo partilham de princípios comuns. Nas diferentes regiões do país, seja nos campos, nas águas, nas florestas ou nas cidades, agricultores familiares têm cultivado “comida de verdade” , livre de agrotóxicos, transgênicos e de conflitos (ARTICULAÇÃO NACIONAL DE AGROECOLOGIA, 2022).
Poderíamos pensar na relação entre saúde e agroecologia tecida desde os territórios de várias formas, mas, como já anunciado, é a partir da “comida de verdade” que organizamos nossa reflexão.
Veja o vídeo com a professora Inês Rugani, que integra a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), no qual ela nos explica o que é “comida de verdade” e sua relação com o direito humano de se alimentar de forma saudável e adequada.
O direito à alimentação saudável e adequada é previsto pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Conheça um pouco mais dessa história na matéria O direito humano à alimentação no mundo e no Brasil , produzida pelo Nexo Jornal.
Apesar de direito previsto, isso não tem sido cumprido nem no Brasil, nem em outros países. Ao contrário, o que se tem evidenciado é o estímulo constante das corporações alimentares ao consumo de alimentos ultraprocessados , de baixo valor nutricional e ricos em açúcares e gorduras.
Fonte: Namorato (2009).
Foto: Bruno Namorato.
No ano de 2019, a comissão de obesidade da revista The Lancet, importante periódico internacional, publicou o relatório A sindemia global da obesidade, desnutrição e mudanças climáticas , que alertou o mundo sobre a relação entre esses três temas. Em 2022, dados de pesquisas, como os do 2º Inquérito nacional sobre insegurança alimentar no contexto da pandemia de covid-19 no Brasil (REDE BRASILEIRA DE PESQUISA EM SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL, 2022) apontam para um cenário estarrecedor no país: mais de 33 milhões de brasileiros e brasileiras estão em situação de insegurança alimentar e nutricional – em outras palavras, passando fome.
A agroecologia é uma das respostas à promoção da segurança alimentar e nutricional do nosso país e da garantia de comida de verdade à população. É o que demonstram, por exemplo, as inúmeras redes de solidariedade tecidas frente à pandemia de covid-19, com o objetivo de garantir alimentos saudáveis às pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade.
Fonte: MST/PE – Fotografia doada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Alimentos produzidos pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que foram doados na pandemia.
Assista ao vídeo com Beto Palmeira, da direção do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), e veja o que ele explica sobre a promoção da saúde e o enfrentamento à fome no contexto da pandemia a partir da produção de alimentos pelas famílias agricultoras.
Desde os territórios, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais, junto às organizações coletivas, se organizaram para que o alimento chegasse a quem precisava. Uma parte dessa história é narrada pelo mapeamento Ação Coletiva Comida de Verdade, que identificou quase 300 experiências de garantia de alimentação adequada e saudável durante a pandemia. Protagonizadas pela sociedade civil, essas experiências nos mostram como a agroecologia tem promovido saúde ao enfrentar a fome com comida de verdade.
