Pesquisa de doutoranda da ENSP é indexada ao sistema AGRIS, da FAO/ONU
Atualizado em 19/08/2025
Por Barbara Souza*
A dissertação de mestrado “Aspectos gerais da covid-19 e as possíveis consequências do uso indiscriminado de antimicrobianos durante a pandemia no Brasil” entrou como referência no Sistema Internacional de Informação em Ciência e Tecnologia Agrícola (AGRIS), mantido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU). O trabalho é de autoria de Líllian Silva, que atualmente cursa o doutorado em Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP/Fiocruz.
“Quando eu idealizei o projeto para o mestrado, durante a pandemia, o maior objetivo era fazer o meu papel de farmacêutica: tentar promover o uso racional de antimicrobianos. Fico muito feliz em conseguir romper a fronteira e difundir essa preocupação com a resistência antimicrobiana, principalmente após a covid-19, pela visão do farmacêutico”, celebrou Líllian.
O AGRIS é uma ferramenta que identifica trabalhos de relevantes para a saúde, agricultura e tecnologia, essencial para quem busca informações científicas e técnicas sobre esses temas em todo o mundo. Oferece serviço como busca multilíngue, acesso aberto, ampla cobertura documental e interface aprimorada fazem dele um recurso valioso para a comunidade global.
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A inclusão da dissertação de mestrado no AGRIS representa reconhecimento acadêmico e amplia a visibilidade da produção científica da Escola, inclusive internacionalmente. Ao integrar uma base de referência utilizada por pesquisadores, gestores e formuladores de políticas em mais de 150 países, o trabalho ganha legitimidade e alcance global, tornando-se acessível a diferentes públicos por meio do acesso aberto. Além disso, fortalece o potencial de colaboração científica, já que a indexação aumenta as chances de o estudo ser identificado, citado e gerar parcerias com instituições e pesquisadores de diferentes contextos.
Na última semana, o trabalho desenvolvido por Líllian no mestrado também repercutiu no Conselho Federal da Farmácia. No site e em redes sociais, o CFF destacou que a pesquisa analisou o aumento na venda de medicamentos que fizeram parte do chamado "Kit Covid" nos triênios pré-pandemia (2017 a 2019) e pós-pandemia (2020 a 2022).
A mestre em ciências, com ênfase em gestão e saneamento ambiental, pelo Programa de Pós-graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP, ressalta que o uso indiscriminado de antimicrobianos pode favorecer a seleção de bactérias resistentes ao tratamento, gerando um problema para a saúde pública. “Além dos antibióticos propriamente ditos, a cloroquina tem uma estrutura semelhante a uma classe de antibióticos muito usada no tratamento de infecções urinárias: as fluoroquinolonas, como a ciprofloxacina. Já a ivermectina se assemelha ao grupo da azitromicina. Para as bactérias, a exposição a esses medicamentos é como um gatilho para produzir mecanismos de defesa”, explicou Líllian.
O estudo também chama atenção para a presença desses medicamentos em ecossistemas aquáticos, como rios, mares e lagoas. A ausência de saneamento básico adequado, somada ao tratamento precário ou inexistente da água e do esgoto, favorece a propagação de ‘superbactérias’, já que os sistemas convencionais de purificação de efluentes não conseguem remover integralmente esses poluentes.
“A perspectiva de uma crise sanitária relacionada às bactérias resistentes é real e silenciosa, mas que precisa receber a devida atenção para que possamos tentar contornar a situação através do controle de prescrições e dispensação dos antibióticos”, disse Líllian.
O uso inadequado desses fármacos é um desafio que exige resposta articulada entre diferentes áreas do conhecimento. A doutoranda defende também um monitoramento da comercialização de antimicrobianos pelo SNGPC, algo que considera que não deve ser visto apenas como uma ferramenta de vigilância, mas como uma estratégia de gestão capaz de fiscalizar o consumo e subsidiar a formulação de políticas públicas e práticas que incentivem o uso racional de medicamentos.
*Com informações do Conselho Federal de Farmácia