Módulo 1 – Determinação social da saúde, políticas intersetoriais e promoção da saúde

Determinação social da saúde

A determinação social da saúde é um conceito que explicita a relação do social e do histórico com o biológico para discutir o processo saúde-doença. O conceito parte do contexto para compreender como são produzidos os processos que levam à doença, tentando conduzir para um entendimento que faça a ligação entre cada realidade e a sociedade em geral. No vídeo Determinantes sociais da saúde são apresentados os elementos que compõem a discussão mais geral sobre determinação social da saúde.

Vídeo sobre os determinantes sociais da saúde

Vamos avançar nessa compreensão, explorando o esquema que o pesquisador Alberto Pellegrini Filho (FIOCRUZ, 2017) utilizou em seu vídeo. Selecione, na figura, cada um dos determinantes para ler mais sobre eles.

CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS, CULTURAIS E AMBIENTAIS GERAIS

Meio socioeconômico e cultural que expressa, entre outras coisas, os níveis de ocupação e renda, o acesso à educação formal e ao lazer; a possibilidade de acesso aos serviços voltados para a promoção e recuperação da saúde; e a qualidade da atenção nos serviços prestados e dispensados aos cidadãos.

CONDIÇÕES DE VIDA E DE TRABALHO

Abrangem fatores relacionados às condições de vida e de trabalho como habitação, ambiente de trabalho, desemprego, educação, água e esgoto, serviços sociais de saúde e produção agrícola e de alimentos.

REDES SOCIAIS E COMUNITÁRIAS

Os graus de liberdade, hábitos e formas de relacionamento interpessoal.

ESTILO DE VIDA DOS INDIVÍDUOS

Meio físico que abrange condições geográficas, características da ocupação humana, fontes de água para consumo, disponibilidade e qualidade dos alimentos e condições de habitação.

IDADE, SEXO E FATORES HEREDITÁRIOS

São os condicionantes biológicos, como idade, sexo e características pessoais eventualmente determinadas pela herança genética.

Esquema com círculos mostrando as diferentes dimensões da determinação social da saúde. Do menor para o maior, representam: Idade, sexo e fatores hereditários; estilo de vida dos indivíduos; redes sociais e comunitárias; condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais.

Fonte: Adaptado de Carrapato, Correa, Garcia (2017).

Diferentes elementos da vida de cada um de nós contribuem para criar condições que determinam nosso estado de saúde. Essa é uma compreensão ampliada de saúde, definida pela Organização Mundial da Saúde (INTERNATIONAL HEALTH CONFERENCE, 1948) como "[...] o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença.”

A saúde não deve ser entendida como um “estado estável”, mas uma dinâmica e complexa relação entre as condições sociais, do ambiente e do meio no qual estamos inseridos (BRASIL, 1997; DEJOURS, 1986).

Por essa razão, o conceito de saúde deve sempre estar balizado por uma compreensão do momento histórico no qual ele é discutido. Portanto, ele varia e variou ao longo do tempo.

É importante compreender esse conceito em sua amplitude. Por isso, sugerimos que você veja o que Paulo Buss (2021a), coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz, fala sobre a definição de saúde.

Vídeo O conceito de saúde por Paulo Buss

Como essa discussão pode ir além da abordagem teórico-científica, achamos interessante apresentar também o ponto de vista do engenheiro sanitarista Alexandre Pessoa (2021), da Fiocruz.

Vídeo O conceito de saúde por Alexandre Pessoa

No Brasil, a Constituição de 1988 estabelece que saúde é um direito universal que se conecta aos direitos básicos e humanos de todos os brasileiros (BRASIL, 1988). Com base nesse conceito norteador, o Estado buscou, nos últimos 22 anos, superar a visão de que as discussões sobre saúde deveriam ser limitadas apenas à ausência de doenças.

Para saber mais

A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, é um marco para a saúde pública brasileira. É considerada histórica, pois foi justamente nela que se sistematizou o conceito ampliado de saúde, a necessidade de um único sistema de saúde no Brasil ,e foram definidos seus princípios e diretrizes. Uma das figuras-chaves nesse processo foi o sanitarista Sergio Arouca.

Assista ao vídeo de Sergio Arouca discursando na abertura da 8ª Conferência Nacional de Saúde .

Assim, pode-se dizer que foram estabelecidos outros aspectos que devem ser considerados na discussão sobre saúde, em especial sobre a saúde pública. Um desses aspectos está relacionado às desigualdades sociais e como elas influenciam a saúde da população. Vamos conferir o que a pesquisadora Rita Barradas Barata (2013) tem a nos dizer sobre esse assunto no vídeo Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde.

Vídeo sobre como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde

Uma questão relevante quando falamos de desigualdades e saúde está relacionada ao distanciamento entre nosso ordenamento legal, robusto na garantia de direitos, e a prática cotidiana da oferta de serviços públicos. Isso implica que, muitas vezes, direitos garantidos por lei não sejam cumpridos.

Um dos aspectos dessa realidade se dá pela “judicialização” do acesso a direitos. Na maioria das vezes, a população com maior nível educacional e maior acesso a recursos aciona o Poder Judiciário para obter alguns direitos, como medicações e tratamentos não cobertos pelo SUS. Por outro lado, as parcelas mais carentes da população, que na maioria das vezes são aquelas que sofrem com a violação de direitos, veem os recursos que deveriam ser destinados ao seu atendimento sendo utilizados para outros fins por meio de ações judiciais (XIMENES, 2020).

Pessoa idosa recebendo uma cartela de medicamento.

Fonte: Peter Ilicciev (CADERNOS..., 2019). 

Outro exemplo que vale ser destacado é como o racismo pode se expressar no acesso aos serviços de saúde. Vamos ouvir a pesquisadora Ana Lúcia Pontes sobre como a pandemia de covid-19 atingiu os povos indígenas no Brasil.

Segurança alimentar

Um grave problema social que vem avançando no Brasil é a fome: como pode um país onde o agronegócio comemora recordes de produção agrícola e lucros em exportações ter mais da metade da sua população em situação de insegurança alimentar e 19 milhões de pessoas passando fome?

Para saber mais

Sugerimos que você conheça os resultados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (REDE BRASILEIRA DE PESQUISA EM SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR, 2022).

Assista ao vídeo com Islândia Bezerra, professora da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas e presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), no qual ela fala sobre segurança alimentar e nutricional e a importância do direito humano à alimentação.

Segurança alimentar e nutricional

Essa discussão reforça a importância da participação social na definição dos recursos destinados à saúde, buscando garantir o cumprimento dos princípios norteadores do SUS. Há instrumentos legais que nos possibilitam garantir alguns compromissos.

O SUS se organiza a partir das necessidades de saúde de cada município, que são expressas no plano municipal. A execução desse plano é conduzida pelos conselhos municipais, mas sua elaboração e andamento devem ser acompanhados pela sociedade, por meio de mecanismos de participação social, visando garantir a qualidade da atenção à saúde (BRASIL, 1990a).

Também podemos compreender, a partir do estudo deste módulo, um pouco mais da importância de iniciativas protagonizadas pela sociedade civil organizada para a promoção da saúde. Destacamos como exemplo o Projeto Agroecos , que reúne instituições de pesquisa e organizações camponesas, indígenas e de mulheres do Vale Central da Bolívia, da Baixada Santista e do Litoral Norte de São Paulo e Sul Fluminense. Conheça um pouco sobre esse projeto de inovação agroecológica de base comunitária e as iniciativas desenvolvidas para fortalecer a capacidade de resposta das comunidades à pandemia de covid-19 assistindo ao vídeo Agroecos – Economia Solidária e Agroecologia.

AgroEcos - Economia Solidária e Agroecologia