Módulo 1 – Determinação social da saúde, políticas intersetoriais e promoção da saúde

Políticas intersetoriais: saúde em todas as políticas

A seção sobre determinação social da saúde deixou claro que, para alcançar (ou mesmo perseguir) o conceito de saúde adotado pela OMS e pela Constituição Brasileira, é preciso exigir políticas de diferentes setores de governo e algumas políticas setoriais.  Alguns exemplos:

  • políticas relacionadas à segurança alimentar, como o acesso a alimentos de qualidade;
  • políticas relacionadas a programas de moradia, envolvendo desde iniciativas para diminuir o déficit habitacional até discussões sobre algumas normas relacionadas a técnicas construtivas (por exemplo, a proibição do uso de amianto em caixas d’águas e telhas, pelo fato de esse material apresentar toxidade e potencial cancerígeno).

Mas o que são setores de governo e o que são políticas setoriais?

Governar, elaborar e implementar políticas públicas é a arte de lidar com problemas complexos da vida em sociedade. Uma estratégia para lidar com esses problemas é dividi-los em grupos (setores) que guardam algumas características comuns. Um exemplo claro são as políticas públicas para a geração e distribuição de energia elétrica, que fazem parte de um setor governamental diferente do que aquele que dispõe sobre as políticas de educação (PAULA et al., 2017).

Algumas vezes, os governos optam por organizar setores de políticas em ministérios ou secretarias de governo diferentes.

Ministérios, secretarias, diretorias são apenas as estruturas burocráticas criadas para lidar com um conjunto de políticas de determinado setor. Não são o setor em si.

Problemas complexos, como os que vemos na realidade da população, exigem soluções também complexas. Ou seja, a simplificação que utilizamos, da divisão de políticas públicas em setores, normalmente não é suficiente para lidar com os desafios que são o objeto das ações de governo.

Segundo a Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, a saúde tem como determinantes e condicionantes: a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (BRASIL, 1990a).

Cinco círculos com fotos ao redor do círculo de saúde. Foto de lazer: pessoas sentadas embaixo de uma árvore cozinhando em fogão a lenha, com panelas humildes; Foto de saneamento: uma rua com obra de saneamento; Foto de educação: adolescentes em aula numa escola; Foto de atividade física: uma criança de goleiro em jogo de futebol; Foto de alimentação: frutas e legumes dispostos à venda.

Educação – Fonte: Fiocruz (2006). Foto: Peter Ilicciev;  
Saneamento – Fonte: Almanaque Lusofonista (2013);
Alimentação – Fonte: Fiocruz (2017). Foto: Salvador Scofano;
Lazer – Fonte: Fiocruz (2007). Foto: Rodrigo Mexas;
Atividade física – Fonte: Fiocruz (2014). Foto: Raquel Portugal.

Direcionando nosso olhar para o tema específico deste curso, você sabia que no Brasil existem várias políticas públicas que relacionam saúde e agroecologia? Nas últimas duas décadas, acumulamos um conjunto de experiências sobre esse assunto. Assista ao vídeo de André Burigo, sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que aborda diferentes políticas intersetoriais nesse sentido.

Políticas públicas

O Brasil é um país pioneiro na criação de uma política de Estado específica para o incentivo à agroecologia. A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) foi criada pelo Decreto presidencial n. 7.794, de 20 de agosto de 2012, para integrar, articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica (BRASIL, 2012). A finalidade era contribuir para o desenvolvimento e a qualidade de vida da população por meio do uso sustentável dos recursos naturais e da oferta de alimentos saudáveis para consumo.

Com o lançamento da PNAPO, o Brasil se torna o primeiro país a criar uma política de Estado específica para o incentivo à agroecologia e à produção orgânica. Construído de forma participativa, o decreto surgiu pela preocupação da sociedade civil e das organizações sociais do campo e da floresta sobre a necessidade de se produzir alimento em quantidade e qualidade necessárias, com o menor impacto possível ao meio ambiente e à vida.

Duas mãos unidas com as palmas para cima segurando grãos de feijão

Fonte: Observatório dos Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (2018a).
Foto: Eduardo Di Napoli/Comunicação OTSS.

A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) realizou um mapeamento nacional de políticas públicas em nível municipal, identificando mais de 700 experiências por todo o Brasil. A iniciativa Agroecologia nos Municípios é inspiração para pensarmos políticas intersetoriais desde o nível local.

Para saber mais

Conheça a iniciativa Agroecologia nos Municípios . No site você vai encontrar um mapa do Brasil que destaca as iniciativas de agroecologia existentes. Ao clicar em cada estado e, depois, em cada município, é possível ter acesso a um conjunto de informações consistentes sobre como experiências de agroecologia têm se organizado pelo país, bem como suas características, relações com povos e comunidades tradicionais etc (ARTICULAÇÃO NACIONAL DE AROECOLOGIA, [2022]).  

Sobre essa rica experiência, vamos ouvir Flávia Londres, secretária-executiva da ANA, que atuou na coordenação da iniciativa Agroecologia nos Municípios.

Articulação Nacional de Agroecologia

Destacamos, por fim, uma política pública intersetorial importante para a promoção da saúde e da agroecologia: o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Em 2009, o PNAE sofreu uma modificação: pelo menos 30% da alimentação escolar deveria ter origem na agricultura familiar, de preferência a de base agroecológica (art. 14 da Lei n. 11.947 ).

Esse tipo de iniciativa gera renda para agricultores familiares que praticam agricultura sustentável, ao mesmo tempo que coloca na mesa das crianças alimentos saudáveis. Está aí um bom exemplo de uma política intersetorial que, ao dar preferência a ciclos curtos de abastecimento das escolas públicas, promove saúde para diferentes grupos populacionais e preserva a natureza.

Conhecer as políticas públicas que dialogam com a promoção da saúde da população é importante para que a gente possa atuar de maneira fortalecida em nossos territórios, articulando diferentes instâncias e setores em prol da saúde das pessoas.

Agora, propomos uma atividade para relacionar esses conceitos com o que você vivencia no seu cotidiano. Vamos lá?

Atividade 2

Neste módulo, gostaríamos de exercitar a sua capacidade de conexão. Por essa razão, sugerimos uma atividade cujo foco é a sua região/comunidade/território. A ideia é ajudá-lo a ver a inter-relação entre as diferentes políticas e o componente de saúde que está (ou deveria estar) incorporado em cada uma das políticas setoriais.

  • Comente a questão: que fatores e determinantes sociais influenciam a saúde da população e da comunidade/território em que você atua?
  • Selecione um dos temas a seguir e tente responder às perguntas propostas.

Alimentação

Descreva sucintamente sobre a qualidade da alimentação das pessoas de sua comunidade ou território de atuação, bem como a importância da alimentação para elas.

Perguntas norteadoras (não é necessário responder a todas ou ficar limitado a elas):

  • As pessoas comem alimentos de qualidade?
  • As pessoas se alimentam ao menos três vezes ao dia?
  • Existem pessoas com dificuldade em obter alimentação adequada?
  • Como são valorizadas as práticas alimentares da cultura tradicional?
  • Há discussões que relacionam as doenças mais recorrentes e o tipo de alimentação preponderante?
  • Há experiências de práticas coletivas de preparo de alimentos na comunidade?
  • Existe restaurante comunitário ou outra iniciativa de geração de trabalho e renda a partir da alimentação?
  • Quem se envolve mais com a alimentação das famílias: homens ou mulheres?

Cuidados populares ou tradicionais em saúde

Descreva sucintamente as diferentes práticas, em seu território, envolvendo plantas medicinais, uso de raízes, benzimentos, parteiras. 

Perguntas norteadoras (não é necessário responder a todas ou ficar limitado a elas):

  • Em sua comunidade as pessoas utilizam plantas medicinais ou remédios produzidos a partir de raízes e/ou até de animais?
  • Há pessoas de referência na comunidade para esses cuidados com remédios caseiros?
  • Existem espaços comunitários para o cultivo dessas plantas (e para compartilhamento de práticas e saberes)?    
  • Quem se envolve mais com os cuidados em saúde: homens ou mulheres?

Saneamento básico

Descreva sucintamente qual é o grau de saneamento de sua região/comunidade/território de atuação.

Perguntas norteadoras (não é necessário responder a todas ou ficar limitado a elas):

  • As pessoas têm acesso a água de qualidade?
  • Existem casos de doenças de veiculação hídrica (por exemplo, hepatite, diarreia etc.)?
  • O lixo (resíduos sólidos) em sua comunidade tem destinação adequada?
  • Há experiências de reaproveitamento do lixo (resíduos sólidos)?
  • Existe coleta seletiva?
  • Existe(m) experiência(s) de compostagem?      
  • Qual a destinação preponderante do esgotamento sanitário?
  • Quem se envolve mais em buscar soluções para questões do saneamento ou manejar resíduos: homens ou mulheres?

Agricultura e produção de animais

Descreva sucintamente os diferentes tipos de manejo da agrobiodiversidade praticados em seu território.

Perguntas norteadoras (não é necessário responder a todas ou ficar limitado a elas):

  • Que experiências de agricultura você identifica em seu território?
  • Que experiências de produção de animais você identifica em sua comunidade?
  • Você considera que algumas são mais sustentáveis que outras? Você identifica práticas agroecológicas em sua comunidade?
  • A produção de alimentos é uma fonte de trabalho e renda para famílias da comunidade?
  • Quem se envolve mais no manejo das roças e criação de animais: homens ou mulheres?

Acesso aos bens e serviços essenciais

Descreva sucintamente como você classifica a oferta de bens e serviços essenciais em sua região/comunidade/território de atuação.

Perguntas norteadoras (não é necessário responder a todas ou ficar limitado a elas):

  • Você considera que o acesso aos serviços de saúde em sua comunidade é satisfatório?
  • Como você classifica a rede e a oferta de transporte público?
  • Como você classifica o serviço de segurança pública?
  • Como você classifica a oferta de serviços de educação, água e esgoto, energia elétrica, internet etc.?

Esta atividade irá subsidiar o item 1 do Pats, referente ao diagnóstico da comunidade/território em que você atua, para implementação de tecnologia social.

Lembre-se de seguir as orientações para execução e envio das atividades apresentadas no início do curso.

Agora, acesse o AVA , para enviar sua atividade.