Módulo 4 – Tecnologias sociais para a promoção da saúde

A pesquisa-ação, o trabalho de campo, a avaliação e os próximos passos

Vimos ao longo deste curso um conjunto de experiências de agroecologia que, por estarem sistematizadas, nos ajudam a refletir sobre suas potencialidades e pontos de atenção. Dependendo das características da experiência, ela pode ser uma tecnologia social para promoção da vida – e é o fato de ela ter sido sistematizada que nos ajuda a fazer essa avaliação e a identificar as necessidades de adaptações para implementação em outros territórios e comunidades.

Dizemos isso para destacar a potência e a importância da sistematização para o avanço teórico e metodológico da agroecologia!

Mas como se produz essa sistematização

Ponto de interrogação

Muitas experiências da agroecologia foram sistematizadas por meio da metodologia da pesquisa-ação, que exige a participação ativa da pessoa que irá pesquisar.

A pesquisa-ação tem por finalidade possibilitar aos sujeitos da pesquisa, participantes e pesquisadores, os meios para conseguirem responder aos problemas que vivenciam com maior eficiência e com base em uma ação transformadora. Ela facilita a busca de soluções de problemas por parte dos participantes, aspecto em que a pesquisa convencional tem pouco alcançado (THIOLLENT, 2011 apud PICHETT; THIOLLENT, 2016, p. S4).

(...) embora seja considerada pesquisa, com seu caráter pragmático, a pesquisa-ação se distingue claramente da pesquisa científica tradicional, principalmente porque ao mesmo tempo em que ela altera o que está sendo pesquisado, ela é limitada pelo contexto e pela ética da prática (TRIPP, 2005 apud PICHETT; CASSANDRE; THIOLLENT, 2016, p. S4).

A relação direta e constante entre o pesquisador e seu objeto de estudo pode trazer algumas questões. Portanto, são necessários alguns passos e roteiros, de maneira que a pesquisa ande conforme o propósito principal: apoiar a comunidade na resolução de uma questão específica.

Construir um roteiro metodológico é muito importante, pois quando o pesquisador está imerso no contexto das comunidades, pode ser que o número de variáveis se amplie e a delimitação do escopo de atuação seja uma dificuldade para a pesquisa.

Com o objetivo de contribuir para a sua atuação no território, trazemos a seguir uma sugestão de roteiro, contextualizado para a agroecologia, que auxilia na realização de uma pesquisa-ação.

Quadro 1 – Roteiro para pesquisa-ação

Fase 1
Montagem institucional e metodológica

a) Determinação das bases teóricas da pesquisa (objetivo, conceito, hipóteses).

b) Definição das técnicas de coleta de dados (observação, entrevistas, registro, imagens, vídeos etc.).

c) Delimitação da região a ser estudada (pode ser geográfica, por povos tradicionais específicos, assentamentos, grupo de habitantes de determinada região etc.).

d) Organização do processo de pesquisa-participante (identificar os principais colaboradores do seu trabalho, partilhar as decisões etc.).

e) Preparação dos pesquisadores (reuniões, grupos de estudos, organização da bibliografia etc.).

f) Elaboração do cronograma de atividades (o que e quando as ações de pesquisa ocorrerão).

Fase 2
Estudo preliminar da região e da população pesquisada

a) Identificação da estrutura social da população (descobrir diferenças sociais, concepções, conflitos etc.).

Muito cuidado nesse levantamento, pois eles tendem a criar agrupamentos homogêneos e a preocupação na metodologia de pesquisa-ação é lidar exatamente com o “ponto fora da curva.”

b) Descoberta do universo vivido pela comunidade (saber do ponto de vista dos indivíduos dentro das situações que são analisadas na pesquisa).

Escuta ativa e atenta!
Ouvir, em vez de tomar nota ou fazer registros. Ver e observar, em vez de filmar. Viver junto, isso é a participação.

Nessa parte, algumas técnicas estruturadas, como quadros teóricos de análise, podem ajudar a fazer algumas generalizações e dar maior significado ao que foi ouvido.

c) Recenseamento dos dados socioeconômicos e tecnológicos.

Levantamento estatístico em bases de dados oficiais secundárias que permitam comparação e observação com realidades similares. A ideia é permitir o agrupamento dos dados em algumas categorias, que podem ser geográficas, hídricas, de clima etc.

Fase 3
Análise crítica dos problemas

a) Identificação dos problemas.

b) Apresentação e discussão com os participantes da pesquisa.

c) Criação de instâncias de discussão com a comunidade (coletivos, comitês, comissões etc.).

d) Formulação das hipóteses de ação.

Fase 4
Plano de ação

a) Definição de ações que possibilitem a análise adequada do problema estudado.

b) Definição de ações que possibilitem melhoria imediata da situação em nível local.

c) Definição de ações que possibilitem melhoria a médio ou longo prazo em nível local ou mais amplo.

Fonte: Adaptado de Thiollent (1988).

Faça download do roteiro para usá-lo na sua atuação no território.

A pesquisa-ação não se encerra com o relatório descritivo e analítico; é preciso apresentar um plano de ação, que, por sinal, pode gerar mais pesquisas. Essa metodologia é muito similar ao que foi apresentado até agora com relação à incubação de tecnologias sociais.

Veja a seguir dois exemplos de pesquisa-ação que realizamos pelo OTSS em diálogo com alguns parceiros.

Pesquisa-ação Comida de Verdade nas Escolas do campo e da cidade

“O projeto Comida de Verdade nas Escolas do Campo e da Cidade é uma iniciativa de pesquisa-ação sobre a inserção dos produtos da agricultura familiar e agroecológicos na alimentação escolar brasileira” (ARTICULAÇÃO NACIONAL DE AGROECOLOGIA, 2022).

O roteiro metodológico da pesquisa pode ser consultado no site e comparado com o quadro que apresentamos aqui. A pesquisa está quase terminando, faltam as validações e devolutivas para as comunidades, além do seminário final. Pelo OTSS, pesquisamos a Associação dos Bananicultores de Ubatumirim (ABU) e a Associação dos Moradores do Quilombo do Campinho da Independência (AMOQC).

Confira o primeiro boletim da pesquisa , que apresenta os resultados preliminares e a importância da pesquisa-ação:

Fechamos este módulo com a expectativa de que tenhamos contribuído para você visualizar possibilidades de ações na sua comunidade. É sobre isso, inclusive, que vamos conversar no nosso momento presencial!

Atividade 2

Ao longo do curso, foram propostas diversas atividades para subsidiar sua reflexão sobre a aplicação de tecnologias sociais em seu território de atuação. Agora é o momento de sistematizá-las na forma de um produto único, que, após o término do curso, possa auxiliar o desenvolvimento de tecnologias sociais nas comunidades tradicionais: o Plano de Ação para Implementação de Tecnologia Social (Pats).

Para o desenvolvimento do Pats, pedimos que você produza um documento ou vídeo, contemplando:

  • Diagnóstico da sua comunidade/território de atuação (localização geográfica, número de habitantes, características socioeconômicas e o que mais julgar pertinente).
  • Tecnologia social selecionada, incluindo uma breve apresentação de como ela poderia solucionar problemas concretos no território.
  • Estratégia de implementação.
  • Viabilidade e recursos necessários para esse processo (atores-chave envolvidos, instituições, parcerias, possíveis fontes de financiamento etc.).

Lembre-se de seguir as orientações para execução e envio das atividades apresentadas no início do curso.

Acesse o AVA para enviar sua atividade.