Como você define intervenção?
Utilize o seu bloco de anotações para construir sua definição. Após realizar a atividade, convidamos você a fazer uma reflexão sobre sua resposta.
Neste tema, iremos caracterizar o que é uma intervenção, seus diferentes tipos, e descrevê-la de acordo com seus componentes estratégicos, técnico-operacionais e estruturais, considerando o contexto em que se insere.
Intervenção pode ser entendida como um sistema organizado de ações que, dentro de um determinado contexto e período de tempo, visa a modificar o curso previsível de um fenômeno, a fim de atuar sobre uma situação problemática em saúde (CHAMPAGNE et al., 2011).
É um sistema dinâmico que valoriza conhecimento, tecnologia e trabalho. Numa sociedade como a nossa, as intervenções assumem configurações provisórias, que se modificam com grande velocidade e adquirem forma específica, de acordo com os diferentes contextos onde elas se inserem. Por seu caráter dinâmico, as intervenções envolvem efeitos esperados e não esperados.
Na área da saúde, são ações ou conjuntos de ações específicas, cujo propósito é mudar uma dada realidade, ou seja, uma situação-problema relacionada à saúde da população (Figura 1). Diante disso, consideramos as políticas, os programas e os projetos como intervenções.
Figura 1 – Relação entre problema de saúde, intervenções e efeitos
Neste material, o termo intervenção será utilizado como equivalente a uma política, um programa ou um projeto.
Observe que, para todo problema de saúde, podemos pensar em diferentes intervenções, a fim de obter um determinado efeito, ou seja, a resolução do problema. Importante considerar o contexto em que a intervenção se insere, pois diferentes contextos podem interferir no modus operandi da intervenção e no alcance dos objetivos.
Tomemos como exemplo de problema de saúde a transmissão vertical da sífilis. Para solucioná-lo, foi escolhida, como intervenção, a implantação da testagem de VDRL em grávidas e o tratamento de gestantes positivas para a doença, em uma unidade de saúde. O que se espera como efeito dessa intervenção é que os recém-nascidos estejam negativados para a sífilis.
Note que há diferença entre uma estratégia para resolver problemas de saúde na população e uma estratégia para resolver problemas de serviços de saúde. Reduzir a transmissão vertical da sífilis na população requer recursos e esforços muito diferentes daqueles necessários para a elaboração de um protocolo terapêutico. O protocolo mobiliza menos atores, ações e outras intervenções diferentes da estratégia de redução do problema na população. O esforço para a elaboração de um protocolo é muito diferente daquele para controlar a transmissão vertical na população de gestantes.
Como o contexto pode interferir na implementação da intervenção e nos efeitos esperados? Será que, mesmo tendo profissionais, estrutura física e recursos materiais adequados e disponíveis para a execução das ações, é garantida a solução ou redução do problema que se pretende enfrentar com a intervenção?
Utilize seu bloco de anotações para registrar as suas reflexões.
Após realizar a atividade, convidamos você a fazer uma reflexão sobre sua resposta.
É importante que você tenha considerado que os efeitos esperados vão depender de diversos fatores externos e internos. Lembre-se de que mesmo com planejamento e disponibilização de todos os recursos, efeitos externos podem modificar a trajetória da intervenção. Da mesma forma, eventos externos podem levar à resolução do problema, mesmo que não estejam diretamente relacionados à intervenção.
De acordo com Champagne (2011), uma intervenção é formada por três estruturas que se inter-relacionam:
Os tipos de intervenção são organizados em função dos seus diferentes níveis operacionais, definidos como um sistema, estabelecimentos, serviços, ações ou tecnologias (PAIM, 2003).
As intervenções podem ser objetos de Monitoramento e Avaliação (M&A), ou seja, de um processo estruturado de coleta e análise de informações visando reduzir incertezas, melhorar a efetividade e a tomada de decisão.
Figura 2 – Os diferentes níveis de intervenções e objetos de M&A
Podem ocorrer nos seguintes níveis operacionais:
É o nível mais complexo de organização das práticas, envolvendo todos os outros e a sua coordenação. Exemplo: sistema municipal, estadual e nacional.
São unidades de saúde de diferentes níveis de complexidade, tais como centros de saúde, hospitais, policlínicas e unidades de saúde da família (USF).
Grau de maior complexidade de estruturação das ações, em que ocorre a articulação de atores para o desenvolvimento das atividades, voltadas a um determinado grupo ou um problema de saúde.
São atividades de promoção, prevenção e assistência desenvolvidas pelos profissionais.
Conjunto dos processos, técnicas, conhecimentos e materiais do setor saúde utilizados para resolver problemas ou facilitar soluções.
Uma intervenção pode ser...
Uma técnica. Por exemplo: um kit pedagógico para melhorar os conhecimentos sobre alimentação; um teste de triagem de malformações fetais.
Um programa, como a desinstitucionalização de pacientes psiquiátricos; a capacitação de agentes comunitários em prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (IST).
Um medicamento; um tratamento (um procedimento ou conjunto de procedimentos).
Uma política, como a de promoção da saúde do idoso; a setorização dos recursos dos cuidados de saúde; a privatização do financiamento dos serviços.
Um protocolo de cuidados de saúde, como o de controle de transmissão vertical do HIV, ou o de quimioterapia para câncer de colo do útero.
Um sistema complexo, como as redes de atenção à saúde.
Uma organização, como um hospital, um hemocentro ou uma unidade de saúde.
Toda intervenção (sistema organizado de ação) pode ser caracterizada com base em seus componentes. São eles:
Vamos conhecer melhor cada um desses componentes.
Correspondem à racionalidade em que se organizam as ações de uma intervenção, segundo sua potencialidade para controlar riscos e danos à população. No caso da saúde, expressam a alternativa de escolha para o controle de determinado problema, buscando uma mudança (efeito) na população. Usualmente, são mensurados por indicadores epidemiológicos. Exemplo: ofertar assistência farmacêutica especializada e de qualidade no SUS, fortalecendo o complexo industrial da ciência, tecnologia e inovação em saúde.
Conjunto de recursos, tecnologias e procedimentos interligados, mobilizados para resolver uma situação-problema. Exemplo: coordenar os processos de seleção, pesquisa e desenvolvimento, produção e aquisição, em conformidade com a Relação Nacional de Medicamentos (Rename) e com a lógica de financiamento e qualidade técnica do SUS.
São constituídos pelos insumos, atividades e efeitos (produtos, resultados e impactos). Exemplo: incremento da capacidade produtiva e dos processos de aquisição de medicamentos.
Numere os itens da coluna de acordo com os componentes estruturais que você considera apropriados.
Agora que você já praticou um pouco e relacionou os componentes de intervenções às diferentes situações, conheça as suas definições.
Recursos necessários para a realização das atividades.
Ações previstas e necessárias para que os efeitos ocorram.
Produto: efeito imediato de uma ou poucas atividades.
Resultado: efeito que expressa mudança substancial no problema, usualmente de médio prazo, e mobiliza um ou mais produtos.
Impacto: efeitos complexos, acumulativos de resultados de diferentes intervenções, usualmente de longo prazo.
Cabe ressaltar que essa terminologia não é única, mas é a utilizada nesta abordagem em M&A.
Os componentes estruturais da intervenção se interligam e se organizam, de acordo com o problema a ser identificado e a mudança desejada, como mostra a Figura 3. Por isso, é importante entender a lógica da intervenção.
Observe que a lógica da intervenção é o sequenciamento entre trabalho previsto e efeitos esperados. Além disso, inclui as relações que os componentes estruturais têm entre si e com o contexto.
Figura 3 – Cadeia de causa e efeito dos componentes estruturais de uma intervenção
A terminologia em avaliação varia conforme a literatura e o uso. Os termos não são necessariamente corretos ou incorretos, mas devem ser usados de forma consistente, de acordo com o referencial conceitual e teórico adotado.
Veja como isso ocorre na descrição de intervenções. O Quadro 1 apresenta algumas das terminologias mais utilizadas. Observe a correspondência entre elas.
Agora que você conhece os componentes de uma intervenção, analise o modelo lógico, que a descreve, enfatizando os seus componentes estratégicos, técnicos e os efeitos esperados.
A partir da leitura dos textos sugeridos, você poderá compreender um pouco mais o modelo lógico elaborado para a intervenção.
Além dos componentes estratégicos, técnico-operacionais e estruturais, é importante considerar, na descrição da intervenção, os elementos que constam da Figura 5.
Deve contemplar os atores envolvidos no seu desenvolvimento, os diferentes contextos em que ela se insere e os efeitos esperados, considerando a situação problemática de saúde que ela pretende resolver.
Figura 5 – Elementos de intervenção
Retomemos o exemplo da transmissão vertical da sífilis. Suponhamos que essa intervenção será implantada em um Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de uma região fronteiriça brasileira.
Que fatores do contexto devem ser considerados na implementação da testagem do VDRL nas grávidas e no tratamento das gestantes positivas para a sífilis daquele distrito?
Considere os contextos a seguir e utilize seu bloco de anotações para registrar as suas ideias.
Para conhecer mais sobre os contextos que envolvem o controle das DST e Aids na população indígena, leia o artigo a seguir:
Vamos utilizar os exemplos dados por Westley, Zimmerman e Patton (2006) para entender melhor os diferentes níveis: simples, complicado e complexo.
Observe que as diferentes características da intervenção resultam em diferentes níveis de complexidade.
Observe uma outra classificação de intervenção, baseada em seus efeitos. Quanto maior a sua complexidade, mais imprevisíveis são os efeitos não esperados.
Uma intervenção para o problema causado pelo vírus zika, por exemplo, pode ter diferentes níveis de complexidade. Um tipo de intervenção simples seria a fixação de cartazes nas salas de espera com informações sobre a prevenção da doença. Porém, a elaboração dos cartazes torna-se uma intervenção complicada por demandar pessoas com diferentes expertises trabalhando coordenadamente. Uma ação nacional para o controle da zika constitui-se uma intervenção complexa, pois diferentes ações devem acontecer simultaneamente para que sejam contemplados a prevenção e o controle, considerando as competências das diferentes esferas de gestão (municipal, estadual e nacional).
Quer saber mais sobre os diferentes níveis de complexidade de uma intervenção? Sugerimos a leitura a seguir.
Para entender a relação entre os objetivos, a situação-problema e os efeitos esperados da intervenção, tomemos como exemplo a gestão do Ministério da Saúde (MS) no período de 2011 a 2015.
O MS iniciou, em 2011, a implementação de um processo de planejamento estratégico buscando o monitoramento e a avaliação de suas ações. Esse planejamento alinhou-se aos principais instrumentos vistos no Tema 1:
Figura 6 – Instrumentos de planejamento e gestão: objetivos e efeitos esperados
Naquele período, foram estabelecidos 16 objetivos estratégicos que passaram a nortear a visão de futuro do Ministério da Saúde.
Nesse planejamento, respeitando as especificidades do PNS e do PPA, os objetivos foram desdobrados em estratégias, resultados e resultados prioritários.
O monitoramento de cada estratégia envolveu a pactuação de produtos, ações e atividades que se relacionassem com os efeitos esperados. Essa pactuação envolveu as diferentes secretarias do Ministério da Saúde.
São norteadores que contemplam as metas que se pretende alcançar a partir de determinadas ações, com base na missão e visão de futuro institucional. Geralmente estão considerados no planejamento estratégico (BRASIL, 2013).
Clique em cada um dos objetivos estratégicos a seguir para conhecer seu conteúdo.
As intervenções buscam solucionar algum problema de saúde. Mas como definir a melhor escolha para uma determinada situação? Já que isso depende das prioridades e dos acordos políticos e institucionais, que tal correlacionar, por enquanto, problema e intervenção?
Parte 1: Numere cada uma das intervenções de acordo com o problema que ela procura resolver.
Parte 2: Agora, vamos refletir sobre outros dois problemas recorrentes no país:
Que tipo de intervenção você sugere para enfrentá-los?
Faça seus registros no bloco de anotações.
Neste tema, compreendemos que a escolha de uma intervenção para lidar com um problema tem requisitos, como estabelecer acordos com os interessados e definir a prioridade, considerando o contexto, a disponibilidade de tempo e de expertise técnica, além dos recursos imprescindíveis para a sua execução.
Agora, que tal explorar um pouco mais o quesito da priorização dos problemas e intervenções, avançando para o próximo tema?